• Carregando...
Santos (à esquerda) e Chávez: primeira semana de governo do colombiano foi marcada por reconciliação com venezuelano | Jose Miguel Gomez/Reuters
Santos (à esquerda) e Chávez: primeira semana de governo do colombiano foi marcada por reconciliação com venezuelano| Foto: Jose Miguel Gomez/Reuters

Num intervalo pouco inferior a três semanas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, passou de autor de alertas sobre uma possível guerra com a Colômbia a defensor da negociação do fim de décadas de conflito entre o governo colombiano e guerrilheiros de esquerda.

A súbita mudança de comportamento ocorre em um momento no qual Chávez busca um novo co­­­­meço com o recém-empossado presidente da Co­­lôm­­bia, Juan Manuel Santos. Na última terça-feira, apenas três dias depois da posse de Santos, os dois governantes concordaram em restabelecer as relações di­­plo­­má­­ticas, rompidas em 22 de julho.

Há uma questão em aberto com relação a quão genuína é a reaproximação e outra referente a quanto tempo ela pode durar. Entre as principais armadilhas estão a denúncia colombiana segundo a qual a Venezuela estaria tolerando a presença de guerrilheiros em acampamentos em seu lado da fronteira e a incerteza quanto à disposição de Chávez de oferecer a cooperação em segurança na qual a Colômbia há muito tempo insiste.

De qualquer forma, apesar das divergências ideológicas entre o presidente venezuelano de esquerda e o novo líder colombiano de direita, ambos possuem interesses comuns, como a retomada do comércio bilateral. Além disso, a disposição manifestada por Santos de dialogar com os rebeldes co­­lombianos foi bem recebida por Chávez.

No encontro que tiveram no dia 10 na localidade colombiana de Santa Marta, a postura mais conciliatória de Santos – em comparação com a linha dura adotada por seu antecessor, Alvaro Uribe – levou Chávez a manifestar, em tom otimista, que os dois reconstruiriam "o que foi feito em pedaços".

O caso

As relações bilaterais entre Caracas e Bogotá foram rompidas por Chávez em 22 de julho, horas depois de a Colômbia ter apresentado perante a Organi­­za­­ção dos Estados Americanos (OEA) o que qualificou como provas de que a Venezuela estaria tolerando, em seu lado da fronteira, a presença de aproximadamente 1.500 supostos integrantes dos grupos guerrilheiros Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN).

Ao romper as relações, Chá­­vez acusou Uribe de mentir e de estar se preparando para atacar a Venezuela da mesma forma co­­mo, em 2008, autorizou um ataque a um acampamento rebelde em território equatoriano.

Factoides

Com o passar dos anos, Chávez recorreu aos atritos diplomáticos com a Colômbia em diversas ocasiões para angariar simpatizantes, acusando o governo Uribe de atuar como fantoche dos Estados Unidos. Juan Manuel Santos serviu como ministro da Defesa de Uribe e compartilhou o crédito pelos ganhos militares da repressão às Farc, fato que, durante a campanha presidencial colombiana, levou Chávez a qualificar Santos como um "fomentador da guerra" e a advertir que a tensão bilateral poderia se agravar caso ele vencesse o pleito.

Chávez aparentemente mu­­dou sua postura depois de Santos ter enfatizado seu interesse no restabelecimento pleno das relações – especialmente do comércio bilateral, que beneficia os produtores de alimentos da Colômbia.

O comércio entre os dois países diminuiu drasticamente ao longo do último ano, em parte pelo fato de Chávez ter congelado as transações bilaterais em protesto contra a decisão colombiana de expandir o acesso do exército dos Estados Unidos a bases militares em seu território.

As preocupações de Chávez com relação à presença de tropas norte-americanas na região persistem e é provável que o antagonismo entre Caracas e Washington continue mesmo em um momento no qual o líder venezuelano tenta reparar suas relações com o principal aliado dos EUA na América Latina.

Chávez parece disposto a atenuar o tom de seu discurso se Santos for mais discreto ao le­­vantar suspeitas contra a Ve­­nezuela no que diz respeito aos rebeldes e evitar acusações em pú­­blico.

O líder venezuelano vinha afirmando que o principal requisito para a normalização das relações era o respeito mútuo, e o foi o que Santos prometeu a ele ao manifestar o desejo de uma "comunicação aberta e sincera".

A expectativa é de que Santos continue em busca da cooperação venezuelana na vigilância da extensa fronteira compartilhada pelos dois países, mas por intermédio de canais diplomáticos, e não de queixas em público.

Ainda não é possível prever até que ponto o comércio pode voltar a ser o que era, uma vez que a economia venezuelana es­­tá em recessão e o declínio nas importações da Colômbia tem sido apontado como responsável, em parte, pelos estritos limites impostos por Caracas ao mercado de câmbio. De qualquer for­­ma, importar mais da Co­­lôm­­bia provavelmente resultaria em benefícios econômicos para a Venezuela, onde a inflação está na casa dos 30% ao ano e os itens importados da Co­­lômbia foram substituídos pelos vendidos por outros países a preço mais elevado. No entanto, mes­­mo que Chá­­vez e Santos prometam deixar de lado os atritos, ainda haverá tensões subjacentes.

Chávez assegura que seu go­­verno não tolerará a presença de grupos armados estrangeiros em seu território e assegura que não ajuda as guerrilhas. No último fim de semana, o líder venezuelano fez um chamado público aos guerrilheiros a que libertem dezenas de reféns e percebam que "não há mais futuro" na luta armada.

No entanto, enquanto as au­­toridades colombianas acharem que a Venezuela não está agindo contra os guerrilheiros que se es­­condem ao longo da fron­­teira en­­tre os dois paí­­ses, o as­­sunto po­­de volt­­ar a cau­­sar atritos en­­­tre Bo­­go­­tá e Cara­­cas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]