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Chávez faz campanha em Guatire, cidade próxima a Caracas. Levantamento aponta que chavistas ganharam espaço e chegam a estar à frente na disputa | Juan Barreto / AFP Photo
Chávez faz campanha em Guatire, cidade próxima a Caracas. Levantamento aponta que chavistas ganharam espaço e chegam a estar à frente na disputa| Foto: Juan Barreto / AFP Photo

Nem chavistas nem oposicionistas. A decisão sobre a emenda constitucional que pode tornar ilimitada a reeleição do presidente da Venezuela está nas mãos dos eleitores "ni-ni" (nem-nem, em espanhol), aqueles que se dizem independentes e não apoiam nem um, nem outro dos dois principais grupos que dominam a cena política do país.

Com a polarização entre os que apoiam o presidente Hugo Chávez e os que são contra ele, quem vai definir se o referendo deste domingo (15) vai aprovar a reforma são os que ficam no meio e que votam ora com um grupo, ora com outro – ou nem sequer chegam a ir votar.

"A participação de pessoas que não são nem chavistas nem opositores é fundamental, e é quem acaba equilibrando a disputa política e fazendo a diferença. Foi este grupo que fez a oposição vencer o referendo de 2007 (sobre uma ampla reforma contitucional), e é atrás dele que estão as duas campanhas agora", explicou ao G1 o cientista social da Universidade Central de Venezuela Nelson Méndez.

Segundo ele, de todo o universo eleitoral venezuelano, o chavismo tem cerca de 33% de apoio, e a oposição, tem 25%. Os outros são os que nem sempre votam, os que não se alinham, que dizem não ser "nem" a favor de Chávez "nem" opositores. "Neste meio há pessoas que votaram em Chávez, que simpatizam com o presidente, mas que podem não aceitar as propostas feitas por ele. Assim como há pessoas que não votaram, mas que até podem concordar com as propostas."

As pesquisas de intenção de voto mais recentes têm mostrado uma variação de vantagem do "Sim" e do "Não" no referendo. A oposição chegou a ter dez pontos percentuais de vantagem, mas alguns levantamentos já chegaram a mostrar que os chavistas ganharam espaço e chegam a estar à frente na disputa.

Abstenção

Em um país onde o voto não é obrigatório, como na Venezuela, muitas vezes uma votação é decidida justamente pelos eleitores que preferem se abster – grupo formado, em sua maioria por eleitores "ni-ni". Foi assim no referendo da reforma constitucional em 2007, quando o próprio Chávez responsabilizou a abstenção por sua derrota - Na ocasião, 44% dos cerca de 16 milhões de eleitores deixaram de votar.

Também vai ser assim no referendo de domingo, segundo uma reportagem do jornal venezuelano "El Universal". Pesquisas citadas no periódico apontam que apenas 46% dos eleitores estavam plenamente convencidos a irem votar. "Chávez vai ganhar pela abstenção", disse o diretor do instituto Datanálisis ao jornal – e mesmo com grande abstenção a vitória é de quem tem mais votos nas urnas.

A vantagem chavista, neste caso, se dá porque mais de 70% desses eleitores decisivos que não se alinham (e muitas vezes não votam) dizem não concordar com a emenda proposta pelo governo. O levantamento citado diz que os que apoiam Chávez, por outro lado, são os que se dizem mais convencidos a irem votar.

Força da oposição

Uma análise superficial dos últimos resultados eleitorais na Venezuela poderia dar a impressão de que a oposição ganhou espaço, e tem grandes chances de impor mais uma derrota ao presidente. Chávez foi derrotado em seu referendo constitucional de 2007, quando tentava ganhar poderes especiais e já autorizava reeleições ilimitadas. Os oposicionistas também mostraram força ao vencer em cidades importantes as eleições regionais de 2008 – mas isso não quer dizer nada, segundo o cientista político da UCV.

"É difícil dizer que a oposição tenha crescido nas últimas vitórias que tiveram (em 2007 e nas eleições regionais do ano passado). O que houve foi que simplesmente conseguiram levar mais pessoas a votar", disse Mendez. "Isso não é menos importante, mas não representa um aumento direto dos opositores."

Os oposicionistas, disse, continuam sendo os mesmos que gritaram contra Chávez por dez anos, não é um grupo que muda muito. O que muda é a capacidade de atrair os outros eleitores que não são chavistas.

"A campanha da oposição aposta no fato de que muitos venezuelanos que não se alinham vão perceber que, com este referendo, Chávez tenta se eternizar no poder. Assim, é possível que pessoas que não fazem parte da oposição discordem desse plano e votem contra a emenda, contra o chavismo."

Quase dois milhões

O grupo chave para a oposição, segundo o pesquisador venezuelano Nelson Rampersad, é formado por 1,8 milhão de eleitores. Em entrevista ao "El Universal", ele disse que é esperada a participação de 10 milhões de eleitores, sendo esse grupo de votantes "ni-ni" um "pêndulo", que garante a vitória para o grupo que conseguir atrair estes votos.

"Há um setor tradicionalmente eleitor de Chávez que se mantém em um pêndulo médio: entre votar em Chávez e se abster. Essa é uma massa de eleitores muito importante e determinante para qualquer decisão eleitoral. Chávez perdeu 2,9 milhões de votos em referendo em 2007 em relação a sua reeleição em 2006. Nas eleições regionais de 2008, que tiveram cara de plebiscito, recuperou 1,1 milhão de votos. Dali há 1,8 milhão de votantes que continuaram não votando em Chávez nem se abstiveram", disse Rampersad, mostrando quem são os eleitores que vão decidir o referendo.

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