Curitiba A proibição do uso de imagens também existe no mundo ocidental. Nos séculos 7 e 8, durante a guerra dos iconoclatas, cristãos destruíram estátuas de figuras sacras, lembra Elyeser Szturm, professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB). "O judaísmo, do qual derivou o cristianismo, não permite a reprodução de imagens", completa.
Paulo Reis, professor de História da Arte da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acrescenta que as reformas religiosas de Calvino e Lutero também vetaram as imagens. "No século 17, enquanto o sul da Europa vivia o barroco religioso, o norte desaconselhava o uso de ícones."
"Hoje ficamos chocados com a reação dos muçulmanos. Mas quando um pastor chutou uma imagem santa no Brasil também houve indignação com o gesto absurdo", diz Szturm. No tempo da Reforma Protestante, no século XVI, eram comuns charges atacando defensores de Lutero ou do Papa (acima). A reação era a mesma dos muçulmanos de hoje. O especialista da UnB explica que existe a hipótese, ainda em estudo, de que o desenvolvimento da caligrafia árabe e da decoração com arabescos se deva justamente à proibição do uso de imagens nas mesquitas. Szturm classifica como muito grave e leviana a publicação das charges sobre Maomé. "É preciso pensar na dor que os muçulmanos estão sentindo ao ver o profeta desrespeitado. É um momento para se pensar na tolerância e compreensão mútua."
José Jorge de Carvalho, especialista em Antropologia das Religiões da UnB, defende que as charges sobre Maomé expressam a islamofobia da direita que quer "associar" os muçulmanos à irracionalidade com o objetivo de justificar a invasão no Iraque e Afeganistão. "É uma estratégia da direita xenófoba e genocida e faz parte da guerra dos EUA contra o mundo islâmico." (KC)



