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Uma mulher passa a tarde na popular ponte Tabiat, em Teerã, capital do Irã.
Uma mulher passa a tarde na popular ponte Tabiat, em Teerã, capital do Irã.| Foto: EFE

Estupros e outras agressões sexuais contra aqueles que ousam mostrar sua hostilidade ao regime são comuns no Irã, especialmente desde setembro, devido às novas ondas de protestos. As mulheres são as principais vítimas, especialmente as de origem curda, do oeste do país.

Depois que a CNN publicou depoimentos que revelam o uso quase sistemático de estupro em mulheres detidas e encarceradas pelas autoridades iranianas, Alice Bordaçarre, chefe do escritório de Direitos da Mulher da Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH),fez declarações sobre essa prática criminosa no atual contexto do Irã.

“Na década de 1980 e após o levante que se seguiu à reeleição de Ahmadinejad em 2009, muitos casos de estupro já haviam sido denunciados. É, portanto, uma estratégia infelizmente recorrente das forças de segurança no Irã”, descreve Bordaçarre ao HuffigntonPost. “É uma arma, uma ferramenta estratégica usada para humilhar, dominar, intimidar, destruir indivíduos e comunidades”, aponta.

Uma das vítimas é Armita Abbasi, de 20 anos, que, assim que começaram os protestos no Irã, começou a postar nas redes sociais críticas ao regime. Porém, da noite para o dia, ela desapareceu das mídias digitais. Abbasi se tornou um símbolo do movimento, como Mahsa Amini – que foi morta durante sua prisão por não usar o hijab (lenço), dando início aos protestos - ou Nika Shakarami – que, aos 16 anos, também morreu ao ser presa pela polícia de costumes.

A jovem de 20 anos foi posteriormente reconhecida pelos médicos de um hospital do país. Ela estava com a cabeça raspada e cercada por policiais. Uma enfermeira também afirmou à CNN que a polícia estava impedindo os funcionários de falar com Armita Abbasi. A jovem teria sido presa pela polícia, torturada e abusada sexualmente.

Investigações 

Rebin Rahmani, ativista do direitos humanos da organização Kurdistan, disse ao veículo de comunicação que uma outra mulher, na sala de interrogatório, foi questionada se estava "pronta" para deixar os policiais estuprarem sua irmã caso não falasse o que as autoridades queriam que ela dissesse aos jornalistas.

Os grupos internacionais Human Rights Watch e Anistia Internacional também relataram casos de agressões sexuais em prisões desde o início dos protestos em meados de setembro no Irã. 
 
Eles explicam que os manifestantes geralmente são presos e depois transferidos de um lugar para outro, sem que suas famílias saibam onde estão detidos. Centenas de pessoas desapareceram nessa rede labiríntica de prisões e centros de detenção.

A Federação Internacional de Direitos Humanos explica que existem três organizações membros no Irã que a mantêm informada sobre a situação. “Conduzimos investigações de defesa para lembrar as autoridades de suas obrigações internacionais e também investigações de litígio para apresentar queixas ou comunicações ao Tribunal Penal Internacional (TPI)”, conta Bordaçarre. No entanto, o Irã não ratificou o Estatuto de Roma e não é um Estado membro do TPI.

Apesar da censura e de cortes da internet no país, vídeos passaram a circular nas redes sociais, onde é possível ver meninas menores de idade retirando os seus véus. Jovens estão entre os manifestantes presos e também existem denúncias de que foram estupradas na prisão. Segundo a federação internacional, não existem provas, mas uma preocupação sobre essa possibilidade. O órgão aponta que algumas informações confidenciais permanecem difíceis de confirmar no contexto atual.

De acordo com o periódico francês La revue Géopolitique, todas mulheres e jovens testemunharam abuso sexual. “Esses relatos trouxeram à tona uma prática de filmar agressões para chantagear as vítimas”, publicou o veículo em artigo.

Quatro meses de manifestações 

A onda de protestos surgiu com a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que morreu enquanto estava sendo presa. O crime que ela cometeu, segundo as autoridades, foi o de "se vestir de forma inadequada", por não usar hijab. De acordo com testemunhas, ela teria sido torturada e executada.

Nos dias seguintes, manifestantes na capital, Teerã, e em outras cidades do país bloquearam o trânsito, incendiaram latas de lixo e veículos da polícia, atiraram pedras contra as forças de segurança e gritaram mensagens antigovernamentais, segundo a agência de notícias oficial Irna.

"Não ao lenço, não ao turbante, sim à liberdade e à igualdade", gritam os manifestantes. O slogan ecoa em protestos de solidariedade em outras grandes cidades do país e no exterior, especialmente em Nova York, Paris e Istambul.

Essas manifestações constituem “um choque muito importante” no Irã, “é uma crise social” em uma sociedade "cada vez mais secularizada", declarou David Rigoulet-Roze, pesquisador associado do instituto francês Iris, à agência AFP.

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