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O ditador da China, Xi Jinping| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

À medida que as eleições de 2024 em Taiwan se aproximam, a China vem intensificando suas atividades militares realizadas nas proximidades das fronteiras da ilha. Tais ações têm sido acompanhadas pelo aumento significativo das perseguições do regime comunista de Pequim contra cidadãos taiwaneses, o que tem gerado um novo cenário de tensão entre os dois países.

Segundo o serviço de inteligência da ilha, a China tem ampliado tais atividades com o objetivo de interferir nas eleições presidenciais e legislativas do país, que estão marcadas para ocorrer no dia 13 de janeiro. O regime chinês, segundo o governo de Taiwan, quer obter um resultado favorável aos seus interesses políticos influenciando a população a escolher nas urnas candidatos que estejam alinhados com a liderança comunista de Pequim.

O diretor do Escritório de Segurança Nacional de Taiwan, Tsai Ming-yen, destacou, de acordo com informações da agência Reuters, que as táticas de intimidação e perseguição do regime chinês, liderado pelo ditador Xi Jinping, estão sendo postas em prática contra cidadãos de Taiwan por meio de detenções e interrogatórios arbitrários daqueles que viajam para a China ou passam por aeroportos do país asiático. Os alvos dessas perseguições e detenções são, em sua maioria, indivíduos envolvidos em grupos políticos ativos ou acadêmicos em Taiwan, disse o diretor.

Segundo Tsai, o serviço de inteligência de Pequim tem investigado as atividades desses indivíduos nas redes sociais, especialmente os comentários críticos ao Partido Comunista Chinês (PCCh). Essa vigilância intensificada coincidiu com a expansão da Lei de Contraespionagem chinesa que ocorreu em abril deste ano, lembrou o chefe da inteligência.

Além disso, Tsai apontou que empresas de pesquisa de opinião e relações públicas em Taiwan podem estar colaborando com a China para manipular e influenciar a opinião pública, especialmente as que são relacionadas à independência de Taiwan e às relações da ilha com a China.

“Estamos atentos aos comunistas chineses que cooperam com empresas de pesquisa de opinião e relações públicas, considerando a possibilidade de que eles manipulem e divulguem pesquisas de opinião adulteradas para interferir nas eleições”, afirmou Tsai.

Além da perseguição realizada contra indivíduos e das atividades militares, outra ferramenta utilizada pela China para tentar interferir politicamente na ilha neste momento é a campanha de desinformação nas redes sociais (principalmente no Tik Tok) e na mídia, que visa sempre dar destaque e amplificar narrativas pró-Pequim, bem como criar divisões dentro da sociedade taiwanesa.

Segundo J. Michael Cole, consultor sênior do Instituto Republicano Internacional em Taiwan, o principal objetivo da China com as campanhas de desinformação é "exacerbar certas narrativas que são vantajosas para Pequim, enfraquecer os oponentes de seus parceiros em Taiwan, semear divisões e confundir o público".

Ao site estatal Voz da América, Cole citou outros exemplos de desinformação que estão sendo utilizadas pelo regime comunista na ilha, como a propagação do medo de que uma vitória do Partido Democrático Progressista, do atual vice-presidente de Taiwan, William Lai, que é o candidato do governo à presidência do país e um forte defensor do discurso de independência, possa aumentar o risco de uma guerra no Estreito de Taiwan, a difusão de falsas acusações de corrupção e incompetência contra o governo taiwanês, e também a manipulação de pesquisas de opinião e relações públicas para influenciar a opinião da população – este último tendo sido também mencionado pelo chefe da inteligência da ilha.

Pequim também tem patrocinado viagens de baixo custo até a China para centenas de políticos locais de Taiwan antes das eleições, conforme relatou a Reuters. Segundo o Voz da América, o ministro do interior de Taiwan, Lin Yu-chang, disse que pelo menos 556 chefes de bairros ou vilas em Taiwan participaram de 51 viagens em grupo para a China nos últimos meses. De acordo com as autoridades taiwanesas, essas viagens servem como uma forma de cooptar o apoio desses líderes locais para que eles ajudem a eleger candidatos favoráveis à China, bem como oferecer benefícios indevidos, como refeições e hospedagens gratuitas para os eleitores que acompanham esses líderes nessas viagens.

Ainda neste mês os promotores de Taiwan lançaram uma investigação contra cinco pessoas por supostamente organizar essas viagens gratuitas para a China para dezenas de eleitores. Segundo eles, um homem de sobrenome Chou ofereceu "benefícios ilegais" para 60 pessoas que participaram de uma viagem até o continente, pedindo em troca que elas apoiassem candidatos de partidos específicos, que são ligados aos ideais de Pequim.

Para Cole, a tentativa da China de influenciar as eleições de Taiwan por meio de viagens patrocinadas para eleitores locais neste momento é questionável. Ao Voz da América ele disse que “certamente, um pequeno número de indivíduos pode concordar em ser cooptado e ‘retribuir o favor’ fazendo algo que favoreça os interesses de Pequim”, no entanto, enfatizou que os esforços da China a essa altura são “muito limitados” para alterar significativamente a percepção geral da população de Taiwan sobre o regime comunista.

O vice-presidente Lai é o candidato favorito para ganhar as próximas eleições e está liderando as pesquisas presidenciais. A China, que considera Lai e seu partido como "separatistas", realiza atividades militares ao redor da ilha como uma clara demonstração de oposição a qualquer tentativa de declaração de independência futura por parte de Taiwan.

Em novembro, segundo informações da CNN, o Ministério da Defesa de Taiwan registrou quatro tentativas de aproximação de forças chinesas à zona contígua da ilha, que fica a 24 milhas náuticas (44 km) de sua costa. Conforme explicou a pasta, essas forças contavam com caças J-10 e J-16, bombardeiros H-6 e navios de guerra, que realizaram “patrulhas conjuntas de prontidão de combate” com o objetivo de “simular uma intrusão e testar a resposta” da defesa preparada por Taiwan.

Neste mês as atividades militares de Pequim se agravaram ainda mais. O regime comunista chegou a enviar 12 caças e um suposto balão meteorológico para cruzar a linha mediana do Estreito de Taiwan, que serve como uma barreira não oficial entre os dois lados. Além disso, a China enviou seu porta-aviões Shandong para navegar pelo estreito, acompanhado de uma escolta de navios de guerra. Taiwan, por sua vez, mobilizou suas próprias forças para monitorar e repelir as eventuais incursões chinesas.

O aumento dessas atividades militares, que foram descritas pelo chefe da Inteligência de Taiwan à Reuters como “anormais”, já que em algumas delas ocorreu um aumento significativo no número de disparos de foguetes, são vistas por Taiwan como uma tentativa do regime de Xi de intimidar as autoridades opositoras e eleitores da ilha. Em agosto, os Estados Unidos pediram à China que cessasse sua pressão militar e diplomática sobre Taiwan, especialmente após exercícios militares intensificados em resposta à visita do vice-presidente Lai aos EUA.

Os EUA, principais fornecedores de armas para Taiwan, mantêm uma relação próxima com a ilha, o que tem gerado uma irritação ainda maior em Pequim.

O atual governo de Taiwan, que é liderado pela presidente Tsai Ing-wen e que tem se oferecido repetidamente para conversar com a China, rejeita as reivindicações de soberania de Pequim e diz que somente o povo da ilha pode decidir seu futuro.

Em setembro, Hsiao Bi-khim, chefe do Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taipei em Washington e candidata à vice-presidente pela chapa de Lai, reiterou o compromisso de Taiwan com a democracia e a resistência à intimidação chinesa.

"Não permitiremos que a República Popular da China [nome oficial da China comunista] nos coaja a tomar essas decisões. O povo de Taiwan decidirá como serão nossas eleições", declarou Hsiao em entrevista concedida à Bloomberg, enfatizando a determinação de Taiwan em construir uma “democracia resiliente para “enfrentar as táticas cada vez mais sofisticadas” de interferência chinesa.

Apesar das diversas tentativas da China de interferir nas eleições de Taiwan, alguns analistas acreditam que o impacto do país sobre o pleito poderá ser limitado. Kharis Templeman, pesquisador da Universidade de Stanford, disse ao Voz da América que não espera que a tentativa de interferência chinesa “mude fundamentalmente” o resultado final da eleição.

“O povo de Taiwan sabe o que está em jogo e vai votar de acordo com sua consciência e seus interesses”, disse ele.

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