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Soldados vigiam região próxima à casa onde o Papa ficará hospedado em Leon, local da primeira parada do Pontífice no México | Edgard Garrido/Reuters
Soldados vigiam região próxima à casa onde o Papa ficará hospedado em Leon, local da primeira parada do Pontífice no México| Foto: Edgard Garrido/Reuters

Pressão

Vítimas de abusos pedem ação do Pontífice

As vítimas de padres pedófilos no México esperam a visita do Papa ao país para pedir que seja feita justiça, em particular em relação ao fundador da congregação dos Legionários de Cristo, já falecido e acusado de abusos.

Há tempos, o Papa Bento XVI vem se encontrando inúmeras vezes com vítimas, principalmente durante as visitas ao exterior, mas nada estava previsto, até ontem, na viagem que começa hoje ao México e a Cuba.

Para enfrentar os escândalos, Bento XVI decidiu, em maio de 2010, retomar o controle da congregação dos Legionários de Cristo, presente em 22 países.

"A igreja deve entregar todos esses agressores à justiça civil", disse Joaquin Aguilar, porta-voz de um grupo que representa 129 pessoas que solicitaram, sem sucesso, uma audiência com Bento XVI durante a visita.

Marcial Maciel, fundador da congregação dos Legionários de Cristo, foi obrigado a abandonar todas suas funções religiosas em 2006, por determinação do Vaticano, tendo falecido nos Estados Unidos em janeiro de 2008, aos 87 anos, em meio a acusações de ter tido uma filha nascida de uma relação que manteve oculta e de abuso de oito ex-seminaristas.

AFP

Quando o Papa Bento XVI chegar hoje ao México, sua atenção não será disputada apenas por autoridades eclesiásticas e fiéis que aguardam a primeira visita do Pontífice ao país. Os principais candidatos à Presidência também buscarão tirar vantagem da imagem santa a pouco mais de três meses para as eleições.

"Quem deve tirar mais proveito será Josefina Vázquez Mota, do PAN, partido da direita católica que pode reforçar sua tradição conservadora apoiado no discurso do Papa. Enrique Peña Nieto, do PRI, outro que representa o catolicismo de direita, também pode se beneficiar. Todos tentarão capitalizar algo com a visita, inclusive Andrés Manuel López Obrador, do PRD, de esquerda, que assistirá à missa pública de Bento XVI no domingo", explica Hugo José Suárez, sociólogo da Universidade Nacional Autôno­­ ma do México (Unam).

O pesquisador afirma que, mais do que a exposição midiática, o PAN — legenda do presidente Felipe Calderón — pode aproveitar para angariar votos fora do ambiente de macropolítica.

"Os líderes de paróquias de pequenas cidades têm um poder de intervenção política impressionante, e podem ajudar a reproduzir as mensage ns do Papa com uma orientação política de direita, o que favoreceria os candidatos pelos quais a Igreja mais tem simpatia", opina Suárez.

É esperado que Bento XVI critique temas clássicos, como o aborto e o casamento homossexual. A agenda prevê um encontro com Calderón. O presidente mexicano abordará uma reforma em discussão na Câmara dos Deputados que poderia incluir a educação religiosa nas escolas públicas, a posse de meios de comunicação por associações religiosas e a participação dos pastores em eleições.

Guia

Antes da chegada do Papa, a Igreja Católica mexicana passou uma mensagem clara e, em fevereiro, lançou um guia para orientar os votos dos fiéis.

"O manual significa que a intervenção será ainda mais contundente após a visita do Papa e guiada pelos candidatos favoráveis aos princípios católicos", afirmou o sociólogo da Unam.

A escolha da cidade de Guana­­juato para receber Bento XVI não foi casual. O discurso oficial é de que a altitude da Cidade do Méxi­­co poderia afetar a saúde do Pon­­tífice. Mas não passa despercebido o fato de que Guana­­juato é o es­­tado com mais católicos no Mé­­xico (93,83%) e dono de uma tradição direitista incentivada pela administração ininterrupta do PAN há 20 anos.

A visita ao México teria ainda a intenção de limpar a imagem da Igreja da pederastia. Ao visitar o país do sacerdote Marcial Maciel, que escandalizou o mundo com denúncias de abusos sexuais, Bento XVI mandaria uma mensagem simbólica importante.

Narcotráfico

Fica a dúvida se o Pontífice co­­mentará a guerra contra o narcotráfico, que já fez 50 mil vítimas desde o fim de 2006. Na semana passada, grupos criminosos espalharam cartazes em que prometiam uma trégua durante a visita papal.

O certo é que a operação de guerra montada para receber o chefe do Vaticano torna explícita a realidade do país. Mais de 13 mil policiais foram mobilizados para fazer a segurança do Papa, além de francoatiradores, em uma logística que custou R$ 20 milhões ao governo local. Depois do Mé­­xico, o Papa se­­gue para Cuba

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