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Desde que assumiu a Presidência, Dilma Rousseff vem dizendo a uma série de surpresos visitantes norte-americanos em seu gabinete que quer encerrar uma década de desconfiança e construir uma nova aliança estratégica com os Estados Unidos.

A mudança, que inicialmente chocou diplomatas do Brasil e dos EUA, está por trás da visita do presidente Barack Obama ao Brasil nesta semana, planejada às pressas. Ambos os lados buscam a chance histórica de aproximar duas potências do Hemisfério Ocidental, com importantes implicações para energia, comércio e defesa.

As questões que afastam os países --disputas comerciais, a presença crescente do Brasil no âmbito internacional e as relações brasileiras com o Irã e outros governos anti-EUA-- não foram encerradas.

Mas mudanças econômicas, como a ascensão da China e o elevado desemprego norte-americano, impuseram novas prioridades a Obama e Dilma, e ambos os lados parecem convencidos de que, mais do que nunca, precisam um do outro.

Dilma disse exatamente isso ao secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, durante uma visita mês passado, explicando que Brasil e EUA precisam cooperar mais em meio ao favorecimento de países emergentes da Ásia na balança global de poder.

"O Brasil é um país ocidental" e partilha valores e interesses comuns com os EUA, disse Dilma a Geithner, de acordo com autoridades de ambos os países com conhecimento direto das conversas.

Dilma disse que quer trabalhar com Obama para reverter o declínio relativo no comércio bilateral durante os últimos anos e explorar outras iniciativas que, segundo ela, podem ajudar o Brasil a se tornar um país de classe média até o fim desta década.

É uma mudança acentuada em relação ao tom do predecessor Luiz Inácio Lula da Silva, que buscou alianças com nações em desenvolvimento como China, Venezuela e Irã, posição que contrariou Washington.

A espontaneidade da visita deste fim de semana --uma viagem ao Brasil era assunto pouco discutido mesmo em janeiro-- é um sinal da vontade de Obama de aproveitar o momento.

A grande delegação reflete o potencial que Washington vê na maior economia da América Latinan --especialmente no momento em que Obama defende as exportações como meio de criar empregos em seu país.

Além de Geithner, a delegação deve ter o secretário de Comércio, Gary Locke, o secretário de Energia, Steven Chu, e o representante comercial dos EUA, Ronald Kirk. Muitos ficarão por mais tempo no Brasil ao invés de seguir Obama para o Chile e El Salvador.

Autoridades brasileiras acreditam que um front unido pode ajudar a persuadir a China a adotar práticas comerciais mais justas e desacelerar a onda de importações baratas que prejudica a indústria local. Washington, por sua vez, espera que o Brasil se torne o contraponto necessário à China na América Latina, na África e também em outros lugares.

"As visitas presidenciais são sempre importantes, mas essa é crítica", disse uma autoridade sênior do governo brasileiro. "O modo como as estrelas estão alinhadas, isso acontece muito raramente. Pode levar anos para haver uma oportunidade tão boa."LEGADO DE DESCONFIANÇAAs esperanças elevadas, no entanto, têm colocado pressão sobre ambos os lados para progredir em uma relação que realmente não tem sido próxima nos últimos 10 anos.

Alguns no governo de Dilma ainda acreditam que a economia brasileira em expansão e a ascendência do país no cenário global o opõem naturalmente a Washington, que eles veem como uma potência decadente sem vontade de acomodar novatos.

Dilma também tem a reputação de uma burocrata durona que buscará resultados bem mais fortes para apontar quando Obama deixar o país.

Reuniões preliminares convenceram ambos os lados de que não haverá muito progresso em questões comerciais, por causa das elevadas tarifas de importação de etanol brasileiro cobradas nos EUA e da relutância do Brasil em permitir um acesso maior ao mercado consumidor nacional.

Ao invés disso, eles devem aprovar diretrizes para negociações comerciais futuras, colocar mais ênfase em iniciativas para expandir a presença de companhias norte-americanas nas áreas petrolíferas brasileiras e partilhar tecnologias agrícolas e de satélite.

O valor econômico desses acordos deve dar uma boa artilharia contra céticos de ambos os países --no setor privado e na política.

"Essa visita é para Obama dizer ao sistema político americano ... que um Brasil bem sucedido e forte é bom para os Estados Unidos. Esse argumento não é óbvio. Muitas pessoas não acreditam nisso em Washington", disse Matias Spektor, especialista em relações Brasil-EUA da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.

Muitas pessoas em Brasília também não acreditam nisso. Um artigo circulando no Ministério de Relações Exteriores, escrito por um ex-estrategista do governo Lula, defende que os EUA e outras "grandes potências" ficarão no caminho dos objetivos do Brasil, como uma maior independência econômica e um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

ELO PESSOAL

Até o momento, Dilma parece pensar ao contrário.

Assessores dizem que sua história de vida --de uma economista de pais imigrantes búlgaros de classe social relativamente privilegiada-- dá a Dilma uma inclinação mais Ocidental que a de Lula, um ex-líder sindical.

Dilma também participou de gerrilhas de esquerda contra a ditadura militar, que era apoiada pelos EUA. Mas sua carreira desde então foi marcada por um combate pragmático à pobreza, e ela vê uma aliança melhorada com os EUA como os meios para um fim determinado.

De fato, é a situação de relativa exclusão dos líderes --Obama como o primeiro presidente negro dos EUA e Dilma como a primeira mulher presidente do Brasil-- que faz diplomatas de ambos os lados esperarem que a reunião desta semana produza resultados a nível pessoal.

"Os dois tiveram a maioridade em sistemas políticos que os excluíram por razões diferentes", disse Spektor. "Isso vai produzir uma união pessoal que é incrivelmente útil."

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