• Carregando...

Gaza (EFE e Reuters) — O Hamas derrotou o antes hegemônico movimento Fatah nas eleições parlamentares de quarta-feira, segundo resultado oficial divulgado ontem, criando um terremoto político que pode sepultar qualquer esperança de retomada das negociações com Israel. O Hamas conseguiu 76 das 132 vagas do Parlamento, deixando o Fatah com 43 (veja quadro abaixo). Isso dá ao grupo extremista islâmico a capacidade de moldar e possivelmente comandar o próximo gabinete. Criado nos anos 80, o Hamas já reivindicou a autoria de 49 atentados a bomba, a maioria deles suicidas, que mataram pelo menos 391 israelenses desde 1994.

O primeiro-ministro Ahmed Qorei, do Fatah, e seu gabinete já renunciaram por causa da derrota eleitoral. O surpreendente resultado não derruba automaticamente o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, um moderado eleito no ano passado, após a morte de Yasser Arafat. Mas Abbas já anunciou que renunciará se não conseguir impor uma agenda de paz. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pediu a Abbas que permaneça no cargo e reiterou a promessa de não negociar com o Hamas, um grupo armado que prega a destruição de Israel, embora essa mensagem tenha sido posta de lado durante a campanha eleitoral.

"Hoje acordamos e o céu estava com outra coloração. Entramos em uma nova era", disse o negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, após a vitória do Hamas. Em Ramallah, sede da Autoridade Palestina, houve confrontos entre seguidores do Fatah e do Hamas quando estes içaram sua bandeira verde na entrada do Parlamento.

Motivação

Um líder do Fatah atribuiu a derrota à frustração popular com a demora na criação de um Estado e com a corrupção nas instituições. Além disso, o Hamas tem a seu favor uma enorme rede beneficente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, os dois territórios ocupados que os palestinos sonham ver convertidos em seu Estado. "O Hamas não venceu porque as pessoas amam o grupo, mas porque estão se vingando contra os anos de governo do Fatah", disse o comerciante Adel Al Helo, de 41 anos, de Gaza.

Em seu primeiro comentário oficial sobre o resultado, Israel pediu à União Européia (UE) que seja rígida contra o estabelecimento de um "governo terrorista" palestino. São as doações da UE que garantem a sobrevivência da Autoridade Palestina, já haviam dito que o Hamas deve renunciar à violência e reconhecer Israel ou do contrário enfrentará o isolamento internacional.

Aposta

O Fatah já rejeitou a hipótese de participar de um governo de coalizão. Analistas no mundo árabe prevêem que o pragmatismo vai prevalecer, com o Hamas atenuando sua posição contra Israel, que, por sua vez, acabará forjando contatos com os novos líderes palestinos às suas portas. Para o bem das negociações de paz, seria bom que a aposta se concretizasse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]