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O voo 83 da Air France havia decolado de San Francisco, nos Estados Unidos, no horário previsto, às 3 da tarde de segunda-feira (7). Os 246 passageiros a bordo tinham a esperança de chegar ainda no começo da manhã desta terça-feira à capital francesa, Paris. Até que, após algumas horas de voo, o piloto avisou pelo sistema de comunicação: a aeronave precisaria pousar em Montreal, no Canadá, devido a “problemas técnicos”.

Não era. O avião foi desviado após a companhia aérea receber o alerta de uma ameça à segurança do voo. Sem mencionar a palavra “bomba”, a Air France divulgou que equipes vasculharam a aeronave após uma denúncia anônima. Nada foi encontrado. Tripulação e passageiros seguiram viagem, mas com mais de sete horas de atraso.

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Poucas horas antes, uma cena similar: um avião da Condor Airlines que ia de Berlim, na Alemanha, ao resort praiano de Hurghada, no Egito, precisou parar na Hungria por conta de ameaças de explosivos. Felizmente, era mais um boato.

No dia 18 de novembro, dois outros aviões da Air France foram desviados no espaço aéreo norte-americano por risco de queda.

Todos estes casos estão nas estatísticas de uma estratégia cada dia mais rotineira: o terrorismo psicológico. Desde a queda de um voo da Metrojet que matou 224 pessoas na Península do Sinai, no Egito, no dia 31 de outubro, e dos ataques em Paris, que mataram 130 pessoas, no dia 13 de novembro, várias ameaças fizeram aeronaves não decolar ou encarar pousos não programados.

Ambos os ataques foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico, que prometeu não recuar em sua cruzada de derramamento de sangue. Não se pode ter certeza se as ameaças partiram de militantes de grupos como o EI, mas é a hipótese mais aceita.

O resultado é desastroso e vai além da perda de dinheiro para as companhias e de tempo e compromissos para os passageiros. Espalha a sensação de insegurança e desperta o temor -- as grandes recompensas dos grupos extremistas. “Uma coisa tem que ficar clara. Apesar de chamarmos de boato, estas ameaças são terrorismo. É uma tática usada para afetar as bases psicológicas e políticas de uma comunidade”, definiu o analista de segurança e leis da CNN Jonthan Gilliam.

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O especialista em estratégias antiterrorismo Erroll G. Southers também se mostra preocupado com este tipo de ação, já que a aviação é historicamente -- e se prova novamente -- um alvo prioritário dos terroristas. 

Southers sustenta que este tipo de ameaça (e ataque, obviamente) consegue instaurar pânico e afetar os países economicamente, potencializando a ação. “ISIS [Estado Islâmico], Al Qaeda e outros grupos são perigosos não apenas porque eles podem fazer uma bomba, mas porque eles sabem onde colocá-la para maximizar o efeito. Nos aviões, eles conseguem [além de vítimas] mexer com a confiança dos usuários e do mercado. Fazem as nações investir ainda mais na sua segurança da aviação. Lentamente as leva a gastar bilhões para detectar um explosivo simples, escondido, por exemplo, em uma lata de refrigerante”, escreveu em artigo também publicado pela CNN.

E os números comprovam a confiança abalada. A Air France-KLM informou que seu fator de carga, uma medida dos assentos vendidos, caiu 0,9 ponto porcentual em novembro depois dos ataques terroristas em Paris, após ter subido 2,7 pontos porcentuais nos primeiros 13 dias do mês. A companhia calcula um custo financeiro até agora de 50 milhões de euros (US$ 54 milhões) gerado pelos ataques.

“O impacto foi bastante concentrado no tráfego local para e de Paris”, disse Pierre-Francois Riolacci, diretor financeiro da empresa, em teleconferência com jornalistas. Embora a Air France-KLM espere mais desaceleração no tráfego aéreo neste mês, a diretoria ainda mantém suas projeções para todo o ano de 2015, afirmou Riolacci.

O problema, para Southers, é que não há solução fácil. Melhorar a segurança é preciso, mas sem ser motivado pelo pânico, que é o que os grupos querem. “Por mais que se possa reduzir os riscos, não há uma forma 100% segura”, diz. Até lá, seguro mesmo será pousar as aeronaves para as verificações, sempre que preciso, antes de seguir viagem.

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