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Mulher acende vela no centro de Kiev, em homenagem aos mais de 70 mortos registrados durante os confrontos no país | Marian Striltsiv/Reuters
Mulher acende vela no centro de Kiev, em homenagem aos mais de 70 mortos registrados durante os confrontos no país| Foto: Marian Striltsiv/Reuters

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Fim veio "gradualmente e depois subitamente"

Irinêo Baptista Netto, editor de Mundo

Ao explicar como foi à bancarrota, um personagem de Ernest Hemingway no livro O Sol Também Se Levanta responde: "Gradualmente e depois subitamente".

Algo parecido ocorreu na crise política da Ucrânia.

Depois de três meses de protestos e conflitos, além de dezenas de mortos (77, pela contagem oficial), em apenas três dias, os ucranianos viram um presidente fugir e outro, interino, assumir.

O mais surpreendente não foi o fim do governo de Viktor Yanukovich e sim a rapidez com que ele desistiu do cargo.

Horas antes de embarcar em um helicóptero e desaparecer, ele havia dito que ainda era o presidente da Ucrânia.

Sua saída de cena parece associada à acusação, feita pelo governo interino, de massacrar manifestantes da oposição.

Especula-se que ele teria desistido antes disso, ao perceber que não tinha mais o apoio necessário para continuar no cargo, mesmo concordando com a antecipação da eleição e fazendo outras concessões.

A reação da Rússia foi algo melancólica.

Ao negar a legitimidade do governo interino de Oleksandr Turchinov, o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, sozinho, fez uma defesa de Yanukovich. Que não está por perto para demonstrar que se importa.

US$ 35 bi em ajuda internacional é o valor de que a Ucrânia precisa pelos próximos dois anos.

  • Oleksandr Turchinov, presidente interino da Ucrânia

Os Estados Unidos disseram ontem que o paradeiro do presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich, não foi confirmado e ressaltou que ele não está "liderando o país ativamente".

Yanukovich, deposto no sábado, foi declarado ontem procurado por "massacre de cidadãos pacíficos", em razão das mortes de dezenas de manifestantes em confrontos com a polícia e por disparos de franco-atiradores na semana passada.

Por meio do porta-voz Jay Carney, da Casa Branca, o governo de Barack Obama afirmou que o parlamento ucraniano elegeu de forma legal um novo representante. O presidente do Parlamento, Oleksandr Turchinov, assumiu como líder interino do governo na esteira da onda de protestos que levou Yanukovich a fugir da capital Kiev.

Yanu­­kovich estaria na península da Crimeia, no Mar Negro, uma área pró-Rússia da Ucrânia.

Carney disse ainda que os EUA estão preparados para ajudar a Ucrânia a recuperar a estabilidade econômica, oferecendo apoio que complemente a assistência do Fundo Monetário Internacional.

A aprovação americana foi contrabalançada com as críticas da Rússia. O primeiro-ministro Dmitri Med­­vedev questionou ontem a legitimidade do novo governo ucraniano. "Ali não temos com quem conversar. Temos sérias dúvidas sobre a legitimidade de uma série de órgãos de poder que agora estão funcionando no país", disse Medvedev, em Sochi.

"Alguns de nossos sócios estrangeiros não acham o mesmo. Não sei que Cons­­tituição leram, mas é uma aberração chamar de legítimo o que, na realidade, é resultado de uma insurreição armada", disse, em referência ao reconhecimento, por parte de alguns países ocidentais, das novas autoridades ucranianas. "Não entendemos o que está acontecendo ali, se existe ameaça aos nossos interesses e às vidas de nossos cidadãos."

O novo governo ucraniano disse ontem que precisa de US$ 35 bilhões em ajuda internacional pelos próximos dois anos. O presidente interino, Oleksandr Turchinov, disse que o país estava próximo da falência e que a economia está à beira de um colapso. A Ucrânia tem US$ 6 bilhões em dívida pública a vencer até o final de 2014.

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