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Todos nós, jovens e menos jovens, estamos crescentemente dependentes da plataforma virtual. É fascinante o apelo da web. Investimos muito tempo digitando mensagens de texto, escrevendo nos blogs, postando fotos e comentários no Facebook ou curtindo videogames.

A internet é uma formidável ferramenta. Mas não deve perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de dependência que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Precisamos, todos, redescobrir a magia da leitura. Compartilho com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem em suas férias de verão.

O silêncio contra Muamar Kadafi (Companhia das Letras) é um livro com pegada. Reportagem na veia. "Quatro homens vestindo jaquetas pretas se aproximaram. Um deles trazia uma arma em punho (...) Um dos estranhos caminhou até Ghaith, agarrando-o; outro veio até mim e apalpou minha jaqueta e meus bolsos até deparar com o iPhone que eu protegia com uma das mãos. Segurei o aparelho com firmeza, sem menção de reagir, lembrando que dezenas de entrevistas gravadas estavam ali. O homem fez força para arrancá-lo com as duas mãos, até conseguir. Então, sem que reagíssemos, fomos pegos à força pelos braços e arrancados da casa." O relato em primeira pessoa do repórter Andrei Netto, enviado especial do jornal O Estado de S.Paulo para cobrir a primeira revolução armada da Primavera Árabe, que em oito meses terminaria com a execução do ditador Muamar Kadafi, mostra a garra da reportagem de qualidade. Andrei e um colega iraquiano foram os primeiros jornalistas estrangeiros a ingressar na região sob controle do regime e a revelar ao mundo a extensão e a intensidade das rebeliões contra a ditadura.

O correspondente do Estadão foi sequestrado, agredido e mantido incomunicável num cárcere militar até sua libertação, intermediada pela diplomacia brasileira, pelos esforços da direção do jornal e pela solidariedade da imprensa mundial. A grande reportagem de Andrei Netto, agora transformada em livro, constitui um relato impressionante das suas experiências ao longo da guerra revolucionária que matou mais de 20 mil pessoas.

O óbvio ululante – as primeiras confissões (Editora Agir) – como dizia Nelson Rodrigues, "a arte da leitura é a da releitura". Comentário certeiro. Acabo de reler as memórias de Nelson Rodrigues, suas "Confissões", condensadas no magnífico O óbvio ululante. Trata-se de um dos maiores cronistas que o Brasil já teve. Seu conhecimento da alma humana, com seus picos de grandeza e seus abismos de miséria, fica esculpido num texto insuperável. Nelson foi um criador de tipos antológicos. Como o anônimo cidadão que lhe serviu para criar o Palhares, o canalha, o que "atacava as cunhadas nos corredores". Ou a imortal grã-fina "com nariz de cadáver". Ou, ainda, o sacerdote que o inspirou a criar o "padre de passeata". Seu texto, brilhante e saboroso, dissecava a alma humana e radiografava a sociedade. Mas o que mais me impressiona é a atualidade do pensamento rodrigueano. Um livro fascinante.

A todos, boa leitura e feliz Natal. E, aos que viajam, boas férias!

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia.

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