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Apesar do aspecto político-eleitoral, mas não se deve negar o mérito da decisão do presidente Lula, confirmada oficialmente ontem, de liberar R$ 440 milhões para a recuperação de 26 mil quilômetros de rodovias em 25 estados – dentre os quais alguns trechos importantes no Paraná.

Livres dos demorados processos previstos na Lei das Licitações graças ao perigoso truque legal de declarar estado de emergência para as estradas, os trabalhos deverão ser iniciados já na segunda semana de janeiro. A promessa é de que, em seis meses, estará concluída a gigantesca operação tapa-buracos, devolvendo às rodovias condições mínimas de trafegabilidade e segurança para seus usuários.

Sem dúvida, este será o mais vistoso outdoor da propaganda do governo – e justamente poucos nos meses que antecedem as eleições gerais de outubro. Independentemente das eventuais críticas de oportunismo que venham a cercá-las, as obras já chegam com atraso face da calamitosa situação das rodovias brasileiras, conforme demonstram o trágico testemunho dos motoristas e os relatórios anuais elaborados pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

No relatório de 2005, 72% das rodovias pesquisadas pela CNT foram classificadas em categorias que variaram de apenas regular a péssima. Pavimentos destruídos, acostamentos inexistentes ou tomados pelo mato e sinalização precária são os principais defeitos que fazem parte dos cerca de 80 mil quilômetros colocados sob avaliação. Salvam-se como bons ou ótimos apenas 22 mil quilômetros, grande parte deles sob regime de concessão à administração privada.

É incalculável o que isto significa em termos de prejuízos à economia. Sem falar na inestimável perda de vidas e de outros infortúnios à integridade física dos seus usuários, as estradas sucateadas e malconservadas constituem-se num dos mais pesados fatores que compõem o custo-Brasil – aquele conjunto de distorções que torna os nossos produtos menos competitivos no mercado. O encarecimento dos fretes rodoviários, o tempo perdido nos percursos, o gasto excessivo de combustíveis, a perda de cargas, a diminuição da vida útil das frotas, tudo isso encarece o preço final das mercadorias. De um lado, diminui a capacidade de consumo do mercado interno; de outro, cria dificuldades intransponíveis na competição pelo comércio internacional. Em resumo, estradas ruins significam um pesado embaraço para o crescimento do país.

O que o governo pretende fazer nos próximos meses – apenas uma operação tapa-buracos – não é suficiente para nos aproximar da situação ideal. É apenas um paliativo para atender às necessidades mais prementes e de curto prazo. Ação mais condizente com as necessidades seria um efetivo trabalho de restauração e de modernização da malha viária, o que certamente exigirá a participação da iniciativa privada. É o que se espera possa vir a ocorrer com a brevidade exigida, independentemente de qualquer maldisfarçada motivação eleitoral.

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