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Para tentar imprimir um mínimo de racionalidade e de ordem no debate da reeleição – inundado pela onda de especulação e soterrado com a queda da barreira do devastador relatório preliminar do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, que comprova a avalanche de dinheiro público, estimada em R$ 2,6 bilhões, para abastecer o valerioduto na compra e aluguel de deputados – convém começar, como recomenda a lógica, pelas preliminares.

Vamos lá. O presidente Lula é candidato ao segundo mandato. O mais ostensivo dos candidatos. Em plena campanha, percorre o país em viagens diárias no conforto do Aerolula, emenda dois e três improvisos em cada pouso e em todos sempre encaixa o tema da sua obsessão.

O que o distingue dos demais pretendentes é exatamente o seu desembaraço com a facilidade dos deslocamentos sem gastar um real, platéia garantida, palanque armado e microfone às ordens.

Tão à vontade como o único candidato com legenda garantida que fixou prazo até fevereiro para a confirmação oficial do sabido. Portanto, a novidade a justificar manchetes seria a sua desistência que deixaria o PT de mãos vazias e diante do desafio de escolher um outro nome como tapa-buraco para arrastar a desbotada e puída bandeira vermelha pelas trilhas do voto esquivo.

Desde que a reeleição foi enxertada na Constituição por obra, graça e outras mágicas do então presidente Fernando Henrique Cardoso, virou praga com a voracidade de gafanhoto e a rapidez de expansão da tiririca. Se a redemocratização, depois dos quase 21 anos da ditadura militar, começou mal com a morte de Tancredo Neves antes de tomar posse e os exageros e equívocos da Constituição de 86, com a reeleição desandou de vez. De lá para cá todos os eleitos para mandatos executivos, do presidente da República aos 27 governadores e mais de cinco mil prefeitos, desde antes da posse, em plena campanha, tão logo pintam os sinais de vitória, passam a sonhar com a reeleição e não pensam em outra coisa: engessam a administração pelos interesses, os acertos, os conchavos que facilitem a conquista do prêmio do segundo mandato.

Lula é o porta-estandarte do bloco do bis. A hipótese de renunciar à candidatura é remotíssima, a última das possibilidades a ser considerada.

Claro que a bonança dos tempos de absoluto favoritismo, com altos índices de aprovação nas pesquisas é anterior à erupção das CPIs no show do escândalo da corrupção iniciado com as denúncias do deputado Roberto Jefferson. E daí para cá, o candidato purga os pecados da omissão, dos clamorosos erros administrativos, do desinteresse pela rotina do governo e pelas falhas da obesa equipe de 33 ministros e secretários – muitos nada fazem porque não têm o que fazer.

Não será fácil nem tranqüila a campanha quando entrar na fase decisiva, sair à rua para os comícios e carreatas e na reta final da massificação com o horário de propaganda em rede nacional de rádio e televisão. E até a ultrapassagem da encruzilhada com a decisão no primeiro turno ou na fogueira do mano a mano dos classificados para a segunda rodada das urnas eletrônicas.

Até lá, Lula e as oposições têm muito com que se preocupar. É uma temeridade tocar a campanha sem a reforma política que o governo não cuidou e o pior Congresso de todos os tempos fingiu que não teve tempo para votar na madraçaria de dois a três dias de sessões por semana.

O financiamento e o formato de campanha exigem faxina moralizadora de aflitiva urgência. É inadmissível, intolerável a repetição do descalabro vexaminoso do modelito marqueteiro de novela que vende candidatos como móveis de carregação ou artigos de luxo de butique e do ofensivo derrame de milhões desviados dos cofres públicos pelos esgotos da corrupção.

O governo e o Congresso estão com a corda no pescoço e prazo curto para buscar a saída, esquecendo as desculpas em farrapos. A cada dia fica mais chocante o contraste entre as evasivas oficiais, com a esburacada afirmação que não há provas da prática do mensalão e que o caixa 2 é um velho pecadilho republicano e os avanços nas investigações das CPIs.

A dos Correios, pela amostragem do relatório preliminar promete mais do que o ceticismo previa, na justa apreensão pela continuidade do acordo entre parceiros na farsa e na farra da impunidade.

A campanha, o Congresso, o governo precisam ser passados a limpo antes da prova do voto. E da crise institucional.

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