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No roteiro habitual dos 12 anos de PT no poder, envolvidos em escândalos permanecem em seus cargos mesmo com todas as evidências de que não há condições de serem mantidos, e ainda são prestigiados por seus chefes, até que a situação se torna tão insustentável que a saída é a única solução – quase nunca por demissão, e sim a pedido do indivíduo em questão. Embora Graça Foster, até onde se sabe, não tenha se envolvido pessoalmente na roubalheira da Petrobras, também com ela o script petista foi seguido à risca. Ontem, a empresa emitiu comunicado ao mercado em que tratava da eleição de um novo comando diante da "renúncia da presidente e de cinco diretores".

Já havia muito tempo que Graça Foster não tinha como permanecer no comando da Petrobras – a própria Gazeta do Povo apontava esse fato desde o fim do ano passado. Até mesmo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia sugerido a saída de Graça em um evento da PGR no meio de dezembro. Àquela altura, já estava claro que, por mais que o nome da executiva jamais tivesse aparecido nas descrições do propinoduto instalado na petrolífera, ela não apenas havia se mostrado incapaz de conter a sangria da empresa, mas também havia colaborado para que os "malfeitos" – o eufemismo preferido de Dilma para roubos cometidos por aliados políticos – ficassem longe do conhecimento público. O caso mais escandaloso é o da empresa holandesa SBM Offshore, que pagou propina não apenas à Petrobras, mas também em outros países. Graça já sabia das irregularidades desde meados de 2014, mas calou-se e só foi admitir o fato em novembro. Também causaram grande impacto as denúncias da geóloga e ex-gerente-executiva Venina Velosa da Fonseca, que disse ter alertado Graça em 2009 e 2012 sobre problemas na empresa.

Dilma Rousseff, no entanto, seguiu mantendo Graça Foster à frente da Petrobras – até porque ela oferecia um providencial escudo para a presidente da República, arrastada para o olho do furacão por sua participação, como presidente do Conselho de Administração da estatal, na malfadada compra da refinaria de Pasadena. Não deixa de ser curioso que, segundo informações de bastidores, um fator relevante para que Dilma deixasse de proteger Graça foi um raro ato de transparência da executiva, ao tornar pública a informação de que ativos da Petrobras poderiam estar sobrevalorizados em até R$ 88 bilhões, dependendo da metodologia usada. A divulgação enfureceu a presidente, mesmo que o número não constasse do balanço oficial da empresa – divulgado, lembremo-nos, com atraso e sem o aval de uma auditoria independente.

Mas, por mais motivos que existam para a saída de Graça Foster, o caos da Petrobras não pode ser todo jogado sobre suas costas. O petrolão vinha operando muito tempo antes de ela ter assumido o comando da estatal – o esquema vem da época em que Lula deixou a empresa nas mãos de José Sergio Gabrielli, quando o aparelhamento político da Petrobras foi intensificado. E, mesmo que nunca tivesse havido corrupção, o caminho para o desequilíbrio da empresa já estava traçado. Foi Lula quem costurou com Hugo Chávez uma parceria praticamente informal para a construção da refinaria de Abreu e Lima – a Venezuela depois daria o calote e deixaria a totalidade dos gastos com a obra, superfaturada, no colo dos brasileiros. Também foi do Planalto a decisão de explorar o pré-sal no equivocado modelo de partilha, que força a Petrobras a fazer investimentos que agora se mostram acima da capacidade da empresa. E, no caso da decisão populista de segurar artificialmente o preço da gasolina para conter a inflação, Graça Foster foi mais executora que idealizadora.

O mesmo comunicado que informa a renúncia de Graça e do restante da diretoria também diz que amanhã ocorre uma reunião do Conselho de Administração para escolher a nova cúpula da empresa. O Planalto e a equipe econômica vêm sondando nomes que devolvam credibilidade à Petrobras: uma missão complicada, dada a situação em que o lulopetismo deixou a estatal, além do temor de que a interferência política continue forte.

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