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Quem de fato está colocando o governo Lula em dificuldades? Quem está traindo as concepções e os princípios do PT?

E não é que o Lupicínio Rodrigues caiu em cima dele! Não, o que caiu foi uma estante, quando ele procurava um disco do Lupicínio. Mas o disco procurado seria um daqueles antigos LPs ("long players"), os chamado bolachões, ou um CD, como são chamados os "compact discs"? O Lupe – assim era chamado Lupicínio Rodrigues – só gravou em vinil. Falecido, aos 59 anos de idade, em 1974, não é do tempo do CD. Coletâneas de sua obra foram gravadas em meio digital a partir da década de 90. Mas o que de fato interessa, neste momento, é saber a verdade sobre tudo o que fala o deputado Roberto Jefferson. E, de tudo o que tem falado, o que menos o povo acredita diz respeito à suposta queda de uma estante sobre seu olho – região do corpo onde as estantes raramente acertam. Um olho roxo, em geral, é resultado de lutas corporais. Não estou dizendo que isso ocorreu. É o que imaginário popular diz. Nesta altura do cenário político do nosso país, interessa-nos saber se tudo o que Jefferson diz e se tudo o que sai na imprensa é verdade. E, se for, desde quando as irregularidades ocorrem.

Muita coisa parece mesmo ser verdade, mas ainda faltam provas. Denúncias de compra de votos não são novidade no Brasil. Aparecem há muitos anos, como por exemplo no caso da emenda que permitiu a reeleição de FHC, aprovada em 1997. Ao afirmar que tais denúncias são antigas, não quero livrar a cara do PT, e muito menos negar sua responsabilidade. Espero, sim, que possamos passar a limpo a política brasileira. A grande maioria do PT simplesmente não tem nada a ver com irregularidade alguma. Explico melhor: um grupo de petistas que controla o partido, conhecido como "Campo Majoritário", composto por mais de uma tendência interna – a maior delas se chama "Unidade na Luta" – errou, ou pode até ter cometido algum crime.

Não se deve colocar a culpa em todo o partido. Quase 100% dos petistas nada fizeram de errado. Agora, têm que andar de cabeça baixa e tentar explicar o inexplicável. Sou fundador de um partido que vem, nos últimos dias, ocupando, negativamente, um grande espaço na mídia. Não quero aqui justificar nada, mas explicar qual foi, na minha opinião, o erro e quem são os responsáveis por ele.

Assim que Lula chega à Presidência da República, as lideranças desse Campo Majoritário – cujos nomes saem todos os dias na imprensa nacional – começam a montar uma base de sustentação do governo no Congresso Nacional. Essa montagem é feita tal como todos os antecessores de Lula. Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso sempre mantiveram uma base fisiológica e clientelista.

Assim, ao invés de ter uma base parlamentar ética, moral e defensora de um programa de governo para mudar o país, formou-se uma base de clientes. E os clientes sempre exigem e querem mais. Ou alguém supõe que deputados que, entra governo e sai governo, continuam sempre na base governista, independentemente de partidos ou ideologias, fazem isso por amor ao Brasil? Algum petista que esteja lendo este artigo pode pensar que quero tirar o corpo fora em relação a tudo que está ocorrendo. Não se trata disso. Afinal, é preciso separar as coisas. Até recentemente, eu era cobrado por esse "Campo Majoritário" a sair do PT, pelo fato de, por exemplo, não concordar em manter certos tipos de aliança. Chegaram até, algumas vezes, a me classificar como traidor, seja por criticar o modelo econômico ou assinar a CPI dos Correios. Agora, pergunto: quem de fato está colocando Lula e o nosso governo em dificuldades? Quem está traindo as concepções e os princípios do PT?

A atual crise política é também repleta de hipocrisia. Basta observar os discursos "moralistas" e de "honestidade" de partidos como PFL, PSDB e parte do PMDB, que até poucos anos atrás não queriam investigar nada. E nem aceitam investigar o passado recente. Neste momento, dos nomes citados, provavelmente todos devem ser investigados, menos o de Lupicínio Rodrigues (1914–1974). Em algum lugar, Lupe deve estar cantando "Felicidade", "Se acaso você chegasse", "Vingança", "Volta", "Torre de Babel", "Nervos de aço", entre tantas outras músicas. Ou ainda a bela "Esses moços (Pobres moços)": "Esses moços / Pobres moços / Ah! se soubessem o que eu sei / Não passavam / Aquilo que eu já passei [...]."

dr.rosinha@terra.com.br

www.drrosinha.com.br

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