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A venda da primeira passagem aérea marcou, há 100 anos, o nascimento da aviação comercial. A aeronave era um pequeno hidroavião pilotado por Tony Jannus, que decolou de Tampa Bay, na Flórida, levando o prefeito de St. Petersburg, Abram Pheil, como primeiro passageiro.

Esses pioneiros não poderiam imaginar a revolução que estavam provocando com aquele voo de 23 minutos. De apenas um passageiro transportado, a indústria chega hoje, um século depois, à marca de mais de 8 milhões de pessoas voando em 100 mil decolagens e pousos diários ao redor do mundo e com um nível de segurança maior do que qualquer outro meio de transporte. Isso merece uma reflexão sobre a forma como a atividade alterou o relacionamento entre as pessoas, ao oferecer uma conectividade sem precedentes entre os continentes, transformando em horas o que antes significava dias, semanas de viagem.

No Brasil, a extensão territorial e a precariedade de outros meios de transporte conferiram à aviação um papel importante na integração nacional. Um país desse tamanho precisa do avião para aproximar as pessoas. De outra forma, não seria possível ir de São Paulo ao Rio de Janeiro em menos de uma hora, nem tampouco chegar a Manaus no mesmo dia.

A grandeza do Brasil propiciou a formação de uma indústria que hoje ostenta uma cadeia composta por quatro grandes companhias aéreas, a Embraer (terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo) e uma sólida rede de fornecedores e de infraestrutura de transporte (aeroportos, navegação aérea e outros serviços). O setor suporta atualmente cerca de 1 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos.

Essa indústria, por suas próprias características, já esteve ameaçada. Basta olhar o passado recente para constatar que nenhuma das quatro companhias aéreas que cortavam o céu do país em 1990 continua voando. Varig, Vasp, Cruzeiro e Transbrasil não suportaram as exigências de capital intensivo, a falta de estabilidade e uma margem de lucro historicamente estreita. Até hoje os efeitos da variação cambial e do preço do combustível e o excesso de regulação são ameaças que impactam fortemente nos custos das empresas.

Contudo, nos últimos anos, com o fortalecimento da economia e a estabilização da moeda, foi possível vislumbrar um momento promissor para aviação brasileira. A liberdade tarifária e o quadro de ascensão social resultaram num crescimento no volume de passageiros na casa de dois dígitos por ano, chegando a triplicar o número de assentos vendidos em apenas uma década. Em 2013, a oferta consolidada de transporte aéreo somou 77,4 milhões de passageiros transportados.

Os índices revelam o potencial do mercado. O ano de 2014 iniciou com um recorde histórico de demanda para um único mês, quando foram registrados 7 milhões de passageiros domésticos embarcados. Já o resultado do primeiro trimestre é 8,9% superior ao dos três primeiros meses do ano anterior. E, mesmo com esse grande volume, o mercado doméstico tem demonstrado ótimo índice de pontualidade, com 84% das partidas ocorrendo dentro de até 15 minutos em relação ao horário programado.

Além disso, um fator importante de desenvolvimento é a expansão das conexões entre as cidades e os mercados. Isso gerou a operação de novos voos entre as grandes cidades e o interior do país. Anualmente, mais de 1 milhão de voos regulares internos fornecem conexões entre 108 aeroportos brasileiros. Somam-se a isso os 62 mil voos internacionais regulares que partem do Brasil com destino a 58 aeroportos em 35 países. Temos 49 companhias estrangeiras voando regularmente para o Brasil e esse número cresce a cada ano.

Os benefícios econômicos gerados no Brasil são muito expressivos: os consumidores gastam anualmente cerca de R$ 110 bilhões (incluindo impostos) com viagens aéreas. E fica quase impossível aferir o quanto essas viagens permitiram a realização de negócios e a geração de recursos. As expectativas são excelentes para um futuro próximo. É o que destacam os dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), os quais colocam o Brasil como o terceiro maior mercado doméstico do mundo em 2017, com 122,4 milhões de passageiros, atrás apenas dos EUA e da China.

O Brasil precisa seguir firme na busca pela melhoria da infraestrutura aeroportuária e na adoção de práticas e procedimentos que gerem ganhos de eficiência, qualidade na oferta dos serviços e conforto para os consumidores. É o que se espera do recente processo de concessão dos aeroportos à iniciativa privada, impulsionado pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos.

Aqui, como em qualquer lugar do mundo, a aviação comercial é uma mola para a economia, e se beneficia do mesmo impulso que gera.

Carlos Ebner é diretor da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) para o Brasil.

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