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O ano de 2015 poderá – e deverá – tornar-se decisivo para a ação no combate às mudanças climáticas. Trata-se, efetivamente, de um problema muito sério, de âmbito global e de solução extremamente complexa, exigindo esforço concentrado de todos os países. Por esta razão, a negociação climática internacional tem caráter diplomático e é conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU). A conferência da entidade sobre o clima (COP 21) ocorrerá em Paris, em dezembro, e reunirá uma série de assuntos discutidos ao longo dos últimos anos. Espera-se do encontro um novo acordo entre os países, que deverá trazer ações efetivas para conter as emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera e que vigorará a partir de 2020.

Além das discussões lideradas pela ONU, muitos países se reúnem para debater soluções para as mudanças climáticas e definir ações em conjunto. Um exemplo disso foi a visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos. Na reunião, realizada em junho, ela e o presidente Barack Obama firmaram um pacto para aumentar o porcentual de energia renovável usada na matriz energética dos dois países: dos atuais 7% para 20% em 2030, isso sem levar em conta os 60% da geração hidrelétrica. Além disso, a mandatária brasileira se comprometeu, no período de 15 anos, a zerar o desmatamento ilegal, o que representaria um grande avanço.

Há informações suficientes para que possamos consumir de maneira mais consciente e responsável

Esta preocupação tem fundamento, já que as alterações do clima, em grande parte, são causadas pela produção e pelo consumo desenfreado de países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos. O país já sofre com os efeitos de um clima mais agressivo (ou melhor seria dizer “já sofre com reflexos climáticos agressivos”?), mas, ao contrário das nações mais pobres, os americanos dispõem de condições econômicas para se adaptar e propor ações que mitiguem os impactos para sua população.

Por isso, as mudanças climáticas ganharam contornos de injustiça social e mereceram a atenção do papa Francisco. O pontífice publicou uma importante encíclica, com enorme repercussão mundial, e que terá um efeito mobilizador não só nas discussões no âmbito político, mas também no meio empresarial e nas conversas de cidadãos comuns. Em sua análise sobre o meio ambiente, o papa diz que “o progresso humano autêntico possui um caráter moral e pressupõe o pleno respeito pela pessoa humana, mas deve prestar atenção também ao mundo natural” e, como já disse João Paulo II, “ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado”.

Não tenhamos mais ilusões: a crise ambiental está relacionada com todos, seja por suas escolhas e comportamentos de consumo, seja por suas opções políticas. Temos responsabilidades individuais; nas sociedades mais desenvolvidas, podemos escolher o quê, quando e como consumir – premiando produtos e serviços com menor impacto ambiental e social. Há informações suficientes para que possamos consumir de maneira mais consciente e responsável.

Por outro lado, um acordo climático internacional que resulte em um texto com ações praticáveis depende da vontade dos países e de seus cidadãos. Nas democracias, delegamos aos políticos essa responsabilidade e se, como dizemos, não existe vontade política, temos também responsabilidades individuais, já que escolhemos os políticos e podemos influenciar suas decisões.

Os grandes problemas ambientais do passado eram geralmente locais: um determinado foco de poluição contaminava a área envolvente e, em situações mais extremas, regiões mais vastas. A alteração do clima é um fenômeno global, pois os gases de efeito estufa não reconhecem fronteiras. Finalmente, precisamos entender que o planeta constitui um todo, interligando nossas ações e consequências globais.

Assim, espera-se que na Conferência do Clima em Paris, no fim do ano, diplomatas do mundo inteiro discutam, em nome dos cidadãos do mundo inteiro, o futuro de nosso planeta, tal como o conhecemos hoje. É imperativo que todos tenhamos consciência do momento, e pelo menos busquemos estar informados para podermos cobrar ações efetivas dos nossos governantes.

Pedro Sirgado, engehneiro ambiental pela Universidade Nova de Lisboa e com MBA pela Universidade Católica Portuguesa, é diretor do Instituto EDP.
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