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Nos dias atuais, a palavra academia é empregada com diversos significados. Academia como sinônimo de universidade, academia de Letras, academia de ginástica, etc. A palavra em questão surgiu na Grécia em 387 a.C., como o nome da escola de Filosofia fundada por Platão, no ginásio consagrado a Academos, herói ateniense da Guerra de Tróia. A academia de Platão fornecia aos seus discípulos uma formação básica, o estudo da Matemática e, quando estes alcançavam o preparo intelectual necessário, aos 30 anos de idade, iniciavam o estudo da Filosofia. Nossa civilização ocidental deve muito ao pensamento de Platão e ao de seus seguidores.

Em 7 de abril de 529, o imperador cristão Justiniano fechou a academia como parte de seu combate ao paganismo e proibiu o ensino da Filosofia. Esse fato marcou o fim da era clássica e é o anúncio das trevas medievais que por muitos séculos permitiu que a intolerância religiosa massacrasse a Filosofia e o livre-pensar. A vingança de Atenéia, deusa grega da Sabedoria, das Artes e da Guerra, começaria em 1440 em Florença (cidade dos Cavalcanti e dos Médici) na Itália com a fundação da Academia Platônica, com a finalidade de estudar as obras de Platão, de Dante e de aprimorar a língua italiana.

A vingança continuou com a invenção do ourives alemão Johann Gutenberg, a imprensa (1455); com o Renascimento, com a descoberta do novo mundo, com Erasmo de Rotterdam (1466-1536), com a Reforma de Martinho Lutero (1483-1546), com Descartes, com o surgimento de dezenas de grandes filósofos, com a Revolução Francesa, com o Iluminismo, com Marx, com Freud e tantos outros, chegando até nossos dias com os modernos e pós-modernos.

A origem da palavra academia está pois ligada às grandes obras do espírito humano, ao livre-pensar, às grandes revoluções e transformações que mudaram o mundo e os homens. As universidades, dignas de serem chamadas de academias, trazem impregnado no seu DNA este compromisso com a liberdade de pensamento, com a capacidade de duvidar e suportar as dúvidas, com a Filosofia, com as transformações do mundo e do homem para melhor. Mais de dois mil anos de História imprimiram esta marca na alma das verdadeiras academias.

Uma universidade não existe sem mestres e discípulos, mas não pode ser comandada por este misto de educador e burocrata ("educrata") que expulsa do câmpus o espírito da academia e em seu lugar instala o espírito do interesse corporativo-fisiológico. Uma universidade não existe sem que suas necessidades materiais e objetivas sejam satisfeitas, mas não pode ser dominada ou dirigida pelo espírito mesquinho do puro interesse pecuniário. Uma universidade pode e deve respeitar a liberdade religiosa, mas não pode ser outra coisa que não a casa da dúvida, da Filosofia e da Ciência. A fé e as crenças religiosas devem habitar o interior dos templos religiosos. Uma universidade não pode se prestar ao papel de serva de partidos políticos, ideologias exóticas ou ditadores de plantão; ela é antes a casa da liberdade.

Tampouco os jovens que procuram uma universidade devem fazê-lo pensando que lá passarão alguns anos na simples busca de uma habilitação profissional. Pensar a academia como agência formadora de mão-de-obra especializada é desonrar a história de seu nome, é negar sua essência, sua alma. Na academia, modernamente, deve-se aprender uma profissão (médico, engenheiro, advogado, arquiteto, etc.), mas jamais apenas isso. A universidade é a academia do espírito, da razão, da parte invisível do homem que o torna humano. É a casa do todo universal e não apenas da especialização tão necessária quanto limitada.

Uma universidade onde, além de adquirir saberes específicos de cada profissão, os estudantes não discutem o todo, a Filosofia, a História, a Política, a realidade de seu país, os problemas do meio ambiente, a situação do planeta, do ponto de vista físico e humano, não pode ser chamada de academia, não merece esse nome.

A academia é antes de tudo o local de desenvolvimento pleno das três dimensões básicas do espírito humano: o sentir, o pensar e o agir. As Artes, as Ciências, a Filosofia, as práticas laboratoriais, o ensino, a pesquisa e a extensão devem formar um homem capaz de atingir a plenitude do pensar, do sentir e do agir. Este homem assim formado, em verdadeiras universidades, com a força de seu sentimento, a luz de sua razão e a habilidade de suas mãos, construirá aquilo que ainda não é. Um amanhã que há tantos séculos a espécie humana busca e merece.

Oriovisto Guimarães é reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP).

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