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Com a batata quente na mão, na afobação do prazo de uma semana e quebrados das urnas eletrônicas do primeiro turno, desta vez o candidato-presidente Lula andou depressa para safar a sua candidatura do maior escândalo "da história deste país", mas não saiu da fórmula do louvável costume de escalar um responsável ou suspeito e atirar nas costas do sorteado o peso da culpa.

A urgência apressou a avaliação dos riscos eleitorais e a escolha do responsável da vez. Atropelado à distância, quando acabara de ensinar ao mundo, da tribuna da ONU, a matar a fome distribuindo bolsa-família, embarcou às carreiras de volta a Brasília para as providências de emergência.

Fora dos seus hábitos, reuniu-se no Palácio Alvorada, por mais de quatro horas, com a cúpula do PT, presentes os ministros de sempre. Por entre afagos e carinhos, o presidente Lula indicou o deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT, para o boi de piranha da vez. O indicado aceitou o sacrifício com humildade, pediu o boné, anunciou que deixava a coordenação da campanha do chefe-candidato à reeleição e tentou juntar palavras para justificar a punição acolchoada por elogios.

O novo mestre-sala, o professor Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência e petista, é também o encarregado de elaborar o programa de governo para o segundo mandato. Deve ser um mágico de fantástica habilidade com as cartas para distrair o distinto eleitorado e abortar o eventual perigo de debandada, que levaria a decisão para um mês de mano a mano no segundo turno, no prazo de nove dias incompletos.

Para complicar mais as coisas, é imprevisível o que o purgatório de cada dia reserva para apoquentar o novo salvador do maior presidente de todos os tempos.

Exemplo do que vêm a caminho, a entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco Aurélio de Mello, alerta para a extrema gravidade do escândalo do dia do seriado da corrupção. Não tenho lembrança de nada mais contundente, com o peso da autoridade do entrevistado, do que os conceitos e adjetivos recolhidos pelos jornalistas Luiz Orlando Carneiro e Tales Faria, como na comparação com o caso de Watergate, que derrubou o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon: "É algo muito pior!" Completa: "Agora, o que temos aqui é o somatório de desvios de poder". No repique: "Como toda a baixaria, tem que ser excomungada, tem que ser afastada do cenário nacional".

O candidato-presidente que tem evitado a imprensa e driblado os convites para as rodadas de debate na televisão, amanheceu, ontem, na telinha favorita da Rede Globo para a entrevista na linha defensiva. Ladeou perguntas e repetiu os truques de sempre. Evitou a sovada evasiva do nada sabe, nada viu. Alega que fez a sua parte ao afastar de cargos no governo todos os envolvidos na lambança. Escorregou duas vezes na suspeita cobrança sobre o famoso dossiê, que fustiga o interesse da sociedade. E, como é óbvio, quer ver tudo apurado e os culpados punidos.

A mesma curiosidade presidencial sobre o dossiê da negociação de bandidos e pelo qual a turma do PT estava pronta para comprar por R$ 1,7 milhão, à vista, em reais e dólares, cutucou a bisbilhotice do senador Aloízio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo que anda mal nas pesquisas e o principal beneficiário do golpe.

Com a velocidade que os fatos se sucedem, seria temerário avançar na especulação sobre as possíveis ou prováveis conseqüências do golpe que não deu certo. Mesmo as imediatas, até 1.º de outubro. E no depois, com ou sem segundo turno.

Mas, no balanço do apurado e sabido e mais do que rola da safra de roubalheira da temporada de vexame, uma angustiante pergunta esquenta os nossos neurônios: em que valhacouto, em que covil de marginais o governo e o PT recrutam os seus quadros de confiança?

Este escândalo, "muito pior que o Watergate", povoa a nossa insônia com a idéia fixa que lateja nas têmporas: o que é que andam aprontando as centenas de petistas encarapitados em cargos de confiança e os milhares que invadiram ministérios, secretarias, autarquias na ocupação gulosa do poder?

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