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Em recente artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, Patrus Ananias, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, anunciou o mapeamento das populações em situação de rua de 60 cidades com mais de 300 mil habitantes. Preocupa-se o ministro com pessoas "a quem não resta nada e que buscam em praças, ruas e avenidas as mais variadas formas de sobrevivência." Segundo o ministro, o objetivo é formular, a partir do levantamento, políticas nacionalmente articuladas para esse público, construindo iniciativas que contribuam para a inclusão dessas pessoas.

Tenho sido crítico em relação aos desmandos e aos sucessivos casos de corrupção que se apalpam em muitos setores do governo Lula. Reconheço, no entanto, a competência e a integridade do ministro do Combate à Fome. Prefeito bem-sucedido em Belo Horizonte (1993-1996), Patrus Ananias conjuga capacidade de gestão com notável sensibilidade humana. Legiões de brasileiros vivem em situações de extrema pobreza. O tráfico de drogas, brutal e hediondo, tem aliciado mão-de-obra no mercado do desespero e da desesperança. As políticas sociais do governo estão sendo, a curto prazo, um bálsamo na chaga da exclusão. A vida dos pobres melhorou. E isso é importante.

Governos, há décadas, viveram de costas para a gravíssima crise social. A elite brasileira não soube ou não quis assumir sua parcela de responsabilidade. Agora, o rosto da fome toca no nervo exposto da insensibilidade. Para os homens de bem, no entanto, a situação pode ser um vibrante apelo à solidariedade, fortemente embotada pela cultura do egoísmo.

Não é humano, por exemplo, queixar-se dos incômodos urbanos provocados pelas correntes migratórias. É preciso ter a coragem de reconhecer a injustiça que se esconde no triste nomadismo. O sertanejo nordestino, tão brasileiro quanto nós, não migra por prazer. Ele é expulso de sua terra pela fome, pela infame indústria da seca, pela incompetência governamental e pela corrupção que, há décadas, transforma verbas públicas em negócios privados.

A preocupação social, felizmente, começa mobilizar muita gente. Multiplicam-se iniciativas sérias de promoção humana. Conheço de perto uma obra notável. Sob inspiração da prelazia do Opus Dei, foi fundado em 1985 o Centro Educacional e Assistencial de Pedreira (www.pedreira-centro.org.br). Nasceu de um ideal de diversos profissionais e estudantes, preocupados em organizar um trabalho social sério na Zona Sul de São Paulo. Após estudo da situação e das suas necessidades, verificou-se que, no bairro de Pedreira, a 30 quilômetros do centro da capital paulista, jovens de 10 a 18 anos se encontravam em uma situação de grave risco social, expostos a drogas, marginalidade e criminalidade. Implementou-se, então, uma escola técnica para jovens carentes que dispusesse de tudo o que uma escola de "primeira linha" pode oferecer.

A Pedreira – como é carinhosamente conhecida – tem atualmente capacidade para 500 alunos e conta com aproximadamente 5 mil m2 de área construída, distribuídos em um terreno de 23 mil m2. Oferece cursos básicos de Eletricidade Residencial e Industrial, Auxiliar de Informática e Informática Aplicada, e cursos técnicos de Administração, Telemática e Telecomunicações, com duração de um a dois anos.

Muitos dos alunos são, em suas famílias, a principal fonte de renda, o que constitui um impacto social relevante. Além disso, deixam a escola com a clara consciência da necessidade de estudar com afinco e dedicação. Com essa mentalidade, é comum que muitos dos alunos da Pedreira cheguem ao nível universitário, uma meta quase impensável no início de seus estudos, em virtude de suas difíceis condições de vida. Mudar é possível.

Por isso os esforços do ministro Patrus Ananias e de tantas pessoas engajadas no mutirão da inclusão merecem registro jornalístico. Não resgatarão, por óbvio, nossa imensa fatura social, mas sinalizam uma atitude importante: olhar a pobreza não com o distanciamento de uma pesquisa acadêmica, mas com a fisgada de quem se sabe parte do problema e, Deus queira, parte da solução.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia. difranco@ceu.org.br

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