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Felipe Lima

O resultado do plebiscito de 2 de outubro surpreendeu a maioria dos colombianos. Nem mesmo os mais otimistas adversários dos Acordos de Havana imaginaram que o “não” venceria o “sim” (por 50,21% a 49,78%). Ambas as campanhas foram marcadas por ofensas, conspirações e desinformação, polarizando um assunto que não deveria dividir ninguém: o fim do conflito na Colômbia.

O resultado democrático do plebiscito amplia o espectro político para a discussão dos Acordos, mas gera incerteza pelo possível retorno do conflito armado em um país polarizado. A principal consequência será a mudança drástica do panorama político no curto e médio prazos no país. É preciso evitar que as Farc deixem a mesa de diálogo, e que o governo e a oposição concordem com um denominador comum para continuar as negociações. No longo prazo, o desafio é maior: reconciliar uma sociedade polarizada e resistente à concórdia ideológica e partidária.

Uma coisa tem de ficar clara: os colombianos não rejeitaram a paz; a maioria escolheu dizer “não” aos Acordos de Havana, celebrados entre o governo de Juan Manuel Santos e as Farc. O sofisma de “paz ou guerra” foi usado com exuberância publicitária entre os governistas como a estratégia mais segura para blindar os Acordos com legitimidade política, mas este era um plano que falharia por muitas razões.

Os colombianos não rejeitaram a paz; a maioria escolheu dizer “não” a um acordo específico

Em primeiro lugar, tentou-se isolar os opositores políticos, rotulando-os como “fomentadores de guerras”, e se subestimou a força popular do ex-presidente Alvaro Uribe. Em segundo lugar, a assinatura dos Acordos, em 26 de setembro, esteve rodeada por uma parafernália de cinegrafistas, fotógrafos e música, ilustrando a imagem errada: os políticos e os comandantes das Farc se deram um banquete enquanto o país não atravessa seu melhor momento econômico ou político. E, em terceiro lugar, boa parte da população ainda custa a acreditar que as Farc não pagarão, com dinheiro ou com a prisão, por todos os delitos derivados do narcotráfico e pelas violações dos direitos humanos e do Direito Internacional Humanitário.

Há três atores que estão chamados a ter papéis-chave: o presidente Santos, o ex-presidente Uribe e as Farc. O capital político do atual mandatário evaporou; sua principal aposta para os próximos dois anos será despolitizar a paz e agir como garantidor, não como protagonista. Uribe ressurgiu das cinzas depois que seu partido perdeu as eleições de 2014; seu desafio é deixar de lado a intransigência em relação à participação política das Farc e renegociar partindo dos Acordos já existentes. E as Farc têm uma oportunidade única para demonstrar compromisso democrático e começar a conquistar alguma simpatia interna, mostrando-se menos rígidas e soberbas.

A palavra que define o panorama político colombiano é incerteza, mas o principal medo que havia, o da reativação do conflito armado, está dissipado por enquanto.

Andrés Felipe Agudelo é professor de História Política da Colômbia na Universidade de La Sabana. Tradução: Marcio Antonio Campos.
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