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Se cada um fizer a sua parte, será possível controlar a população de Aedes aegypti, certo? Depende. As autoridades, daqui ou de outras plagas, têm sido contumazes em apelar para soluções que se limitam ao comprometimento da comunidade, tornando magicamente simples um problema que na verdade é muito complexo.

O controle do inseto vetor da dengue e do zika vírus no Brasil é um exemplo de uma solução que pode parecer simples, mas que envolve incontáveis variáveis que transformam a tarefa numa missão – quase – impossível.

Estudos publicados nos dão conta de que o manejo ambiental, consistindo na eliminação de focos de proliferação do mosquito como única estratégia para diminuir o número de infecções, não é efetivo. Hoje é quase consensual que o que realmente funciona – e se sustenta no tempo – são as estratégias combinadas, inclusive o manejo ambiental.

Hoje, paradoxalmente, o que se vê é uma dificuldade imensa de comunicar a importância do comprometimento comunitário para a eliminação de potenciais criadouros do mosquito. É muito mais fácil e rápido viralizar vídeos engraçados do que mostrar para todo mundo que as epidemias de dengue e zika são problemas gravíssimos e que estas doenças não acontecem só com os outros.

O manejo ambiental, consistindo na eliminação de focos do Aedes como única estratégia, não é efetivo

Parece que, mesmo sabendo disto, talvez por impossibilidade de fazer algo mais efetivo, nossas autoridades centram suas poucas energias no manejo do ambiente, superestimando sua eficácia. Algo equivocado, na verdade, se levarmos em conta que esta é uma medida necessária, mas não suficiente.

As outras abordagens que devem ser combinadas com a indução de comportamentos comunitários incluem o controle químico e biológico do vetor. Destes, o controle químico, representado principalmente pelo uso de substâncias que matam o mosquito, tem sido considerado com muita cautela, já que traz como efeito colateral a contaminação ambiental e o risco de intoxicações, além do risco do aparecimento de insetos multirresistentes a inseticidas.

Assim, nos sobra o controle biológico, antes constituído primordialmente de predadores naturais das larvas, mas que hoje inclui os promissores Aedes transgênicos, cujos descendentes machos morrem antes de fertilizar fêmeas.

Pelo menos um estudo independente, publicado em revista científica de alto fator de impacto, mostra evidências de que tal método é eficaz e seguro na diminuição drástica da população de mosquitos. Além disto, o método já conta com a aprovação do CTNBio desde 2014 e aguarda o sinal verde da Anvisa. O cuidado aí é monitorar outra espécie de Aedes, igualmente perigosa, que poderia se proliferar mais rapidamente a partir da diminuição da população de Aedes aegypti.

Isto posto, a mensagem não pode ser equivocada: apesar de sabermos que isso não basta, temos de nos engajar de corpo e alma nas campanhas que visam a eliminação dos mosquitos.

Antes de acusar este ou aquele governo de descaso com a saúde – o que não seria injusto –, vamos lembrar que a falta de preocupação com o perfil de ocupação de áreas urbanas, com o saneamento básico, com a aplicação de uma política adequada para o gerenciamento do lixo e, principalmente, com a educação é defeito comum a praticamente todos os que governaram esse país.

Quem sabe a união de todos no combate ao Aedes possa pelo menos nos mostrar que numa democracia a responsabilidade por tudo que fazem nossos representantes é, antes de tudo, nossa.

Sergio Surugi de Siqueira, doutor em Ciências Fisiológicas pela PUC do Chile, é professor de Imunologia na PUCPR.
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