Em um mundo cada vez mais desigual e desafiador, a necessidade de colaboração entre empresas privadas e organizações da sociedade civil nunca foi tão grande. Existe, hoje, um cenário complexo na filantropia: as doações para o terceiro setor estão diminuindo. A pesquisa Doação Brasil revela que, no ano passado, foi constatada uma redução de 67% nas contribuições às organizações do terceiro setor – o valor total foi de aproximadamente R$ 475 milhões. Essa queda levanta um alerta sobre a importância de fortalecer as parcerias entre companhias e ONGs por meio da filantropia, que se tornaram fundamentais para enfrentar os desafios sociais e ambientais deste tempo.
Uma comunidade devastada por uma enchente, onde a falta de alimentos e água potável coloca em risco a vida de milhares de pessoas, faz com que a resposta rápida e eficaz a crises como essa dependa da colaboração entre diferentes setores. Ao unir forças por meio da filantropia, empresas e ONGs podem mobilizar recursos financeiros, infraestrutura e conhecimento especializado para atender às necessidades mais urgentes da população afetada, acelerando a recuperação e a reconstrução, fortalecendo o bem-estar da população atingida.
Ao se engajar em parcerias com organizações sem fins lucrativos, as empresas fortalecem a reputação, engajam colaboradores e contribuem para um mundo mais justo e sustentável
O exemplo emblemático de filantropia é a resposta à crise das enchentes no Rio Grande do Sul. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), corporações como Itaú, Bradesco e Santander, destinaram mais de R$ 126 milhões em recursos para auxiliar as comunidades gaúchas. Essa iniciativa foi responsável por mitigar os impactos e demonstra como a expertise financeira e a infraestrutura de grandes instituições privadas podem complementar o trabalho das ONGs, que atuam diretamente com as comunidades, oferecendo apoio psicológico, assistência social e reconstrução de casas e escolas.
Torna-se fundamental explorar novos modelos de colaboração, como leis de incentivo, que consistem em um mecanismo que permite a renúncia fiscal, por parte do Poder Executivo, de recursos que deveriam ser arrecadados de pessoas e empresas. Dessa forma, o governo abre mão de receber parte dos impostos para incentivar projetos em determinadas áreas, como o social.
Com isso, companhias têm um papel fundamental que pode resultar em vantagens para o próprio negócio. Ao se engajar em parcerias com organizações sem fins lucrativos, as empresas fortalecem a reputação, engajam colaboradores e contribuem para um mundo mais justo e sustentável. As parcerias de filantropia podem gerar, inclusive, inovações e soluções criativas para problemas complexos, beneficiando tanto as empresas quanto a sociedade como um todo.
Ainda, uma abordagem essencial para enfrentar esses desafios passa pela transformação do olhar individual em uma postura coletiva: precisamos, como sociedade, substituir o “O que eu posso fazer para mudar essa situação?” pelo “O que é que nós, coletivamente, podemos fazer?”. A análise de crises sob uma perspectiva exclusivamente individual não só é pouco eficaz, como também tende a gerar um sentimento de impotência que paralisa e desestimula ações. Dessa forma, se quisermos ver mudanças profundas e duradouras, é crucial que pensemos e atuemos em conjunto, discutindo e compartilhando informações. Assim, a responsabilidade deixa de ser um peso isolado e passa a ser uma força coletiva, potencializando o impacto das parcerias entre empresas, ONGs e outros atores sociais.
Thiago Crucciti é diretor nacional da ONG Visão Mundial.
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