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Os sinais de recuperação dos negócios no país, precisamente a partir do segundo trimestre do corrente ano, brotaram em fins de 2015, com a impulsão das vendas realizadas para os agentes econômicos residentes no resto do mundo, fruto da reação generalizada da economia global, depois da superação do default provocado pelo mercado hipotecário de segunda linha dos Estados Unidos, em 2008 e 2009.

De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta vem registrando variação superior a 3% ao ano desde 2013, puxado pela moderada, porém contínua, reação dos mercados avançados (Estados Unidos, Europa e Japão) e a desaceleração não acentuada do crescimento dos emergentes, especialmente a China. O patinho feio da reativação global é representado pelo Brasil, que, em consequência de incursões macroeconômicas intervencionistas e populistas, empenhadas em imputar a culpa das mazelas domésticas a eventos exógenos, encenou o espetáculo da maior depressão de sua história, a partir do princípio de 2014, abdicando dos benefícios proporcionados pelo circuito ascendente no ambiente mundial.

No entanto, desta feita, a crise não traz a assinatura de “seres de olhos azuis”, como sublinhava o ex-presidente Lula em fins de 2008, aspecto expresso na forte compressão do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos, que caiu de US$ 104,2 bilhões em 2014 (ou 4,2% do PIB) para US$ 13,54 bilhões nos 12 meses encerrados em agosto de 2017, ou 0,7% do PIB.

A participação brasileira nas trocas globais é, na melhor das hipóteses, desprezível

Essa diminuição da vulnerabilidade externa da nação foi viabilizada a partir de 2015, por meio da mistura entre o choque inflacionário promovido pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, centrado no regresso do realismo tarifário e cambial, e a pronunciada retração dos níveis de atividade, forçando as corporações a buscarem compensar parte das perdas derivadas do encolhimento da absorção interna (investimento e consumo, público e privado), com maior penetração na fronteira internacional.

Por essa ordem de resgate de dinamismo, a via de mão dupla das relações internacionais ensejou acréscimos de 14,1%, 4,6%, 42% e 10%, das exportações, importações, saldo da balança comercial e corrente de comércio do país, respectivamente, nos 12 meses findos em setembro de 2017. Tal fenômeno reproduz o encaixe na curva virtuosa global e a ainda frágil retomada da expansão endógena que, inclusive, induziu a inversão da marcha ladeira abaixo das importações.

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No entanto, parece prematura a avaliação de que o setor externo poderia representar a arma secreta para a fuga da recessão. Considerando que a nação responde por 3,3% do PIB mundial, sua participação nas trocas globais é, na melhor das hipóteses, desprezível. O país contribui com 1,1% e 0,7% das exportações totais e de manufaturados, respectivamente, do planeta, revelando praticamente a mesma expressão experimentada há mais de 30 anos.

Na verdade, o desejado alargamento da abrangência quantitativa e qualitativa do comércio externo brasileiro depende da intensificação da integração competitiva de empresas e ramos produtivos, operantes no território nacional, nos segmentos nobres das cadeias globais de valor. Para tanto, as entidades públicas e privadas envolvidas direta e indiretamente com o problema deverão desenvolver, de modo articulado, esforços na direção da construção de um programa de maior inserção externa e exposição à concorrência, ancorado na busca de enfrentamento e derrubada de um conjunto de obstáculos que englobam amarras macroeconômicas, tributárias, logísticas, institucionais e legais, além da ausência de política comercial e de cultura exportadora.

Gilmar Mendes Lourenço, economista e consultor, é professor da FAE Business School e ex-presidente do Ipardes.
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