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Torna-se cada vez mais evidente o processo de fragilização pelo qual passa a economia brasileira nos últimos anos. O fraco crescimento apresentado a partir de 2011 e a redução na criação de empregos ano após ano, entre outros indicadores, não deixam muita dúvida disso.

Enquanto a média de crescimento dos últimos três anos e do corrente é a menor dos últimos 20 anos, na comparação a cada quatro anos, o mercado de trabalho vem apresentando claros sinais de deterioração. Por exemplo, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, os saldos entre criação e demissão de empregados formais nos primeiros semestres de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014 foram, respectivamente, de: 1.473.320; 1.265.250; 858.334; 657.573; e 493.118. Adicionalmente, o mês de julho de 2014 teve o pior desempenho na criação líquida de empregos formais dos últimos 15 anos para o mês. Dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE mostram, ainda, uma desaceleração na evolução dos salários médios reais, além do fato de que a taxa de desemprego só não apresenta elevação porque as pessoas estão desistindo de procurar emprego e, desse modo, elevando a proporção de inativos.

Recentemente, li várias matérias em diferentes jornais e meios de comunicação sobre a acusação, por parte de integrantes do governo, a respeito do papel da imprensa para ajudar na explicação desse cenário. De acordo com eles, a imprensa nacional e internacional (juntamente com os analistas pessimistas) vem apresentando matérias que mostram um cenário pior que o atual e que, portanto, prejudicam o ânimo dos empresários, os investimentos e o desempenho da economia.

No entanto, a imprensa e os analistas são muito mais mensageiros de fatos do que responsáveis pelos mesmos. Em outras palavras, as verdadeiras causas estão nas próprias ações do governo e de sua equipe econômica, que minaram sua credibilidade e aumentaram a incerteza, ambas com efeitos nos ânimos dos empresários. De quem é a culpa da redução do superávit primário, das manipulações contábeis, do excesso de intervenção no mercado, do descontrole inflacionário, da falta de reformas cruciais, da infraestrutura precária e da elevação do déficit nas contas externas?

Outro ponto que vem sendo apontado com frequência para explicar o nosso fraco desempenho econômico é a crise internacional. No entanto, quando nos comparamos com o restante da América Latina, cujas economias são muito semelhantes à brasileira em vários aspectos, percebemos que o nosso desempenho é inferior desde 2011, e com perspectivas de que esse cenário se mantenha no próximo ano. Certamente fomos afetados pela crise, mas nossos erros nas medidas de política econômica também pesam no desempenho da nossa economia.

Enquanto a estratégia do governo é, por um lado, incorporar os anos do governo Lula nas estatísticas para "encobrir" o fraco desempenho da economia desde 2011 e, por outro, encontrar culpados para explicar a deterioração do cenário econômico, fica a sensação de que poucas mudanças serão realizadas em um eventual segundo mandado da nossa presidente.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da FEA-RP/USP.

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