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O voto distrital misto é a única fórmula para diminuir a influência do poder econômico nas eleições, de tornar a disputa política mais sadia e de consolidar o caráter democrático de nosso sistema

Acabamos de sair de um pleito nacional, para o qual estavam aptos a votar 135,8 milhões de eleitores, e dele temos de tirar alguns ensinamentos, que, aliás, devem ser aproveitados a cada eleição no sentido de corrigirmos eventuais distorções e fortalecemos o nosso sistema político. Neste, por exemplo, há anomalias como a eleição para a Câmara Federal de Tiririca (PR-SP), com 1,4 milhão de votos, entre outros candidatos, que se traduz em algo emblemático. A menor culpa, na verdade, cabe ao humorista Tiririca. E a culpa maior deve ser imputada ao mal-humorado sistema eleitoral brasileiro, apesar de todos os avanços nos últimos anos.

Precisamos, para evitar exemplos desta natureza, de um novo ordenamento político, de uma postura política séria, fruto de uma profunda reforma, com itens fundamentais para esta mudança, que já vai se tornando defasada no país. Desde o início dos anos 90, por exemplo, nossa entidade tem discutido, proposto e divulgado a necessidade da adoção do voto distrital misto. Não há como fugir desse instrumento para que possamos aumentar a responsabilidade da comunidade sobre ela mesma, para estimular a interação – e cobrança – entre ela e os seus representantes no Legislativo, com forte repercussão no Executivo. A comunidade pode com esse sistema escolher seus representantes entre os cidadãos que, efetivamente, nela vivem e trabalham. Com o sistema atual, sem escolhermos o representante de nosso "distrito", há a possibilidade de elegermos não só "tiriricas", mas vários outros que nem conhecemos, resultando em instituições pouco sólidas, sujeitas a pressões de toda ordem, inclusive a "mensalões" e congêneres, sem a devida fiscalização e cobrança comunitária.

Com o voto distrital misto, crescem as chances de escolhas claras, mais próximas da consciência e do nível de informação do eleitor, que possam ir além das peraltices orais ou circenses de candidatos "exóticos". A nosso ver, esse tipo de escolha, o distrital misto, que é um dos itens importantes para uma reforma política, provoca o crescimento da lente do eleitor no trabalho do político em sua comunidade e fora dela.

O voto distrital misto contemplaria tanto aspectos geoeconômicos, com a diminuição dos custos da campanha (os candidatos concorrem em suas próprias bases geográficas), quanto os proporcionais. O eleitor teria direito a dois votos desvinculados: um a ser conferido ao candidato do distrito e o outro à legenda do partido político por ele escolhido (isso poderia evitar a costumeira mudança de partidos pelos candidatos). O cidadão vota em distritos, regiões com aproximadamente a mesma população, e cada distrito elege seus representantes.

Várias instituições e entidades têm se manifestado sobre isso, lembrando que é a única fórmula para diminuir a influência do poder econômico nas eleições, de tornar a disputa política mais sadia e de consolidar o caráter democrático de nosso sistema. Pode ser o início de uma grande transformação do perfil político de nosso país.

Edson Ramon é presidente da Associação Comercial do Paraná.

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