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Violência na família, contra mulheres e crianças, no trânsito, nas drogas, nos meios de comunicação, violência (ainda) da pobreza e da falta dos sonhos. Qual a solução para tantas formas de violência? Polícia? Espiritualidade? Diálogo e tolerância?

Vivemos com uma forte sensação de esgotamento das lamentações, perspectivas e possibilidades na abordagem das enormes violências que invadem nossa vida cotidiana. Por mais que queiramos crer, sabemos que não é apenas caso de polícia e de investimentos em segurança. Tratar a violência, efetivamente, é mudar o foco e afirmar que a prevenção é a única alternativa sustentável a ser construída nas relações humanas, comunitárias e sociais. Prevenir as violências é acreditar em uma cultura de paz. Mas isso não se faz apenas com boa vontade. Supor uma cultura de paz é entender a necessidade urgente de educar para a paz. Educar para a paz como um conjunto de práticas pedagógicas, baseadas na educação crítica sobre valores humanos, na mediação dos conflitos cotidianos, na perspectiva de uma não violência ativa como superação de uma de paz passiva. Uma paz não como o contrário de guerra, mas o contrário de violência.

As questões e provocações acima não são meras suposições. Na Europa e nos Estados Unidos, os estudos sobre a paz possuem uma longa caminhada. Desde os anos 1960 existem grupos que fundaram a tradição da Peace Research, ou da pesquisa da paz, tanto em aspectos macroestruturais como nas práticas cotidianas. Tais estudos apontam para um campo de conhecimento relevante, a educação para a paz, pensada de forma transversal nas escolas, programas e projetos sociais, assentada fundamentalmente numa perspectiva de desenvolvimento humano sustentável.

A noção clássica da paz, ligada à serenidade e às pombinhas brancas, não será descartada, porque possuem raízes históricas e significado cultural importante. O que precisamos fazer para que a cultura de paz seja alternativa verdadeira às violências é alongar este olhar. De fato, temos de entender as diferentes violências e não somente nos escandalizarmos com as estatísticas ou casos midiáticos. Precisamos reconhecer o potencial violento das relações humanas, dos preconceitos e da intolerância. Ao mesmo tempo, aceitar que os conflitos são inerentes aos seres humanos, mas que sua mediação requer diálogo e tolerância como dimensões realmente importantes para nossa vida e para as novas gerações.

Justamente nesta perspectiva florescem atualmente no Brasil, em muitas cidades e estados, projetos educacionais relacionados à educação para a paz! As escolas são espaços estratégicos para a aprendizagem das convivências permeadas por valores mais sólidos, mais positivos e especialmente mais críticos diante de realidades ou mecanismos sociais violentos. Se dizemos que existe uma cultura de violência, que ela é aprendida e reproduzida socialmente, podemos afirmar igualmente que propostas de educação para a paz efetivamente contribuirão para modelos de cultura de paz, não como utopia, mas por substituição gradativa de formas, práticas e modelos violentos. Vale pensar. Vale tentar!

Nei Alberto Salles Filho, coordenador do Núcleo de Educação para a Paz da Univer­sidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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