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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

É uma luta diária. Fazer a escolha exata diante de dilemas antigos da condição humana: afinal, satisfazemos nossos instintos ou buscamos a consciência sobre nossos atos?

Quem governa não pode se abater com os dissabores da crise. A coragem é a única qualidade que permite o combate às suas origens com a mesma obstinação demandada, a fórceps, no prélio contra as consequências. Os colapsos, de modo geral, se consumam pela dupla incapacidade no enfrentamento. Neste caso, faltam energia ou sagacidade para lidar com as causas e com seus desdobramentos. É como aquele pai que hesita em ministrar um corretivo ao filho por deixar o coração falar mais alto, e tampouco dialoga com ele sobre seus desvios de conduta, comprometendo o futuro da família.

Muita gente está se debruçando na análise dos erros que cometemos, erros que ora nos atormentam neste período tão crítico na política e na economia. Muito se diz em artigos ou debates, mas certamente um aspecto pouco abordado é uma das chaves para entender nossa trajetória descendente nesta década.

Onde o corporativismo viceja, a coesão morre. E, sem coesão, a luta contra a crise não prospera

O corporativismo é um dos maiores entraves para a nossa retomada. É um instituto que se disseminou de forma doentia na nossa sociedade, em especial no setor público. A partir dele, foi naturalizada a cultura do privilégio no funcionalismo, cujos salários e benefícios cresceram de forma exponencial desde a redemocratização, impactando enormemente os custos para o contribuinte, com a agravante de que esta aventura dispendiosa pouco agregou eficiência na prestação dos serviços básicos. O espírito de corpo não apenas deixa o Estado pesado. Ele é o ponto de partida para uma miopia severa que afeta a visão global dos males da sociedade. Sem reconhecê-los, a massa dos privilegiados prefere fingir que é vítima e não promotora dos desequilíbrios que solapam a máquina pública e que contaminam todo o ambiente econômico.

A política demagógica que sempre negligenciou o combate a esta prática nos rouba a possibilidade de um legado para as novas gerações. Quanto mais precisamos de austeridade, quanto mais precisamos de controle nas despesas, mais o populismo se apresenta como uma barreira. Executivo, Legislativo e Judiciário duelam para abocanhar mais e mais fatias do Orçamento, levando-nos à ruína financeira, à inflação e ao desemprego. E assim a República Federativa do Brasil vai se tornando uma das burocracias mais caras já vistas. A campanha do funcionalismo paranaense contra o pacote de austeridade do Palácio Iguaçu e as manifestações contrárias à emenda constitucional que propõe congelar os gastos públicos por 20 anos são exemplos de quão grande é o desafio de enfrentar a cultura corporativista no Brasil.

Onde o corporativismo viceja, a coesão morre. E, sem coesão, a luta contra a crise não prospera. Mas é alentador perceber que já há governos trabalhando para romper com este ciclo histórico, no qual a demanda por gastos públicos cresceu sem precedentes na história. A forma mais viável de transformação é apoiarmos homens públicos que têm a grandeza de colocar em primeiro lugar os interesses do povo e do Estado.

Que as mobilizações preocupadas tão somente com a perda de “boquinhas”, a serviço de interesses partidários escusos e imorais, pereçam sob o olhar vigilante da sociedade civil organizada. As duras lições dos últimos anos já são mais que suficientes para entendermos definitivamente que as riquezas não são infinitas, que não temos recursos para satisfazer os desejos de todos os grupos organizados e que nos endividar não é uma boa saída.

Já somos adultos para compreender todo o processo que leva à falência de uma república. Com dinheiro público não se brinca e toda forma perdulária de lidar com ele se converte no castigo de uma crise severa, que aflige sobretudo os mais pobres. O Brasil precisa amadurecer.

Claudio Tedeschi é presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil).
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