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Parece uma afirmação pesada e irreal, mas sim, a escravidão voltou e a tendência é de que as correntes dessa escravidão pesem cada dia mais. Quando observamos o mundo, a política, a saúde e a educação, conseguimos ver em nosso cotidiano situações estarrecedoras de escravidão que doem aos olhos. Precisamos agregar um olhar crítico e iniciar um posicionamento firme para que não nos tornemos reféns uns dos outros.

Se observarmos a política, perceberemos nitidamente que o Congresso Nacional é o senhor, dono dos escravos, que somos nós, a população brasileira. A força que o Congresso Nacional tem para manipular, agregar valor em coisas que nada valem e mexer com nossas estruturas de país sem ao menos consultar a população, roubando de nós milhões em benefícios pessoais e usando nosso suor para enriquecer ilicitamente, é simplesmente a escravidão manipuladora. As situações dos nossos hospitais públicos, onde um ser humano fica dias esperando internação e agonizando, se parece com a senzala e o tronco, onde somos castigados pela incompetência dos nossos legisladores.

E, quando falamos em educação, impossível não discorrer sobre a verdadeira escravidão, que ocorre em dois sentidos. O primeiro, de uma escola que não ensina; que simplesmente distribui conteúdos para cumprir tabelas e calendários; que alfabetiza apenas para a escrita do nome, ponto essencial nos dias de votação; que deixa a nossa população brasileira sem saber interpretar, pois o senso crítico não é aguçado e nem trabalhado dentro das escolas; podemos ouvir as histórias mais complexas ou mais simples e não nos importamos, pois não as deciframos. Talvez aí esteja a justificativa para nossa falta de sensibilização coletiva.

Uma escola que sofre da síndrome do povo brasileiro, de professores que pensam em levar vantagem, em apenas fazer seu horário, em olhar o seu umbigo e não se responsabilizar pela educação do filho alheio, mesmo recebendo um salário para isso. Ensinar para um país coletivamente capaz de lutar pelos seus ideais com competência é sonho jamais vivido em nossa educação.

O segundo é a escravidão vivida pelos adultos em função das crianças, uma quase história de horror. É demasiado triste observar como está sendo definido o padrão de respeito e a inversão de papéis nas famílias brasileiras. As crianças estão escravizando, monopolizando o mundo em torno de si, fazendo dos adultos seus escravos; os pequeninos mostram comportamentos dos antigos senhores de engenho. Um círculo vicioso que tornou as crianças o centro do nosso país, manipulando os gostos e os afazeres dos adultos de acordo com suas vontades infantis.

Somos, sim, escravizados física e emocionalmente pelas crianças, pois estamos permitindo que elas batam nos rostos dos pais, barbarizem em restaurantes, tomem decisões e manipulem os adultos, colocando-os em atrito a seu favor.

Vale perguntar: até onde vamos conseguir levar esta realidade? Até quando vamos aceitar a coação feita por eles, pequeninos em formação que não sabem o certo e o errado e têm o poder de escolha? Acho que precisamos rever nossos conceitos.

Esther Cristina Pereira é diretora da Escola Atuação, em Curitiba.

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