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Tive um professor que, entre muitas outras coisas úteis, me en­­sinou a, antes de pesquisar qualquer assunto, procurar en­­tender a etimologia das palavras envolvidas. Assim, quan­­do resolvi escrever O Brasil não é para amadores, fui pesquisar as razões pelas quais a sociedade brasileira adora uma improvisação e descobri que a etimologia da palavra "improvisação" é "algo que não havia sido visto antes". Eureka, bingo! Os brasileiros são improvisadores, porque o Brasil foi um país em que as coisas nunca haviam sido vistas antes, carente de referências históricas: na administração do Estado, por exemplo, dom João VI trouxe para o Brasil os hábitos e costumes da burocracia portuguesa, o que já não era um bom começo. Treze anos depois voltou para Portugal com milhares dos funcionários que havia trazido e, assim, tivemos de improvisar um aparelho estatal nós mesmos. A falta de experiências anteriores em muitos assuntos obrigou a população a inventar seus próprios meios, o que explica muito da improvisação e do "jeitinho" brasileiros. Descobri, também, porque a ideia de "trabalho" horroriza tanta gente: sua origem é o "tripalium", um instrumento de tortura utilizado pelos romanos para empalar os inimigos e os criminosos. Portanto, o termo evoca sofrimentos indescritíveis; os que abominam o batente têm sólidas razões etimológicas para sua aversão.

Nesta semana, em que celebramos o Dia do Professor, resolvi pesquisar a etimologia das palavras-chave de nossa profissão. Comecei por "educação", que deriva dos verbos "conduzir", "guiar". E daí vem a conclusão melancólica: um sistema educacional como o nosso, que hoje em dia permite que o aluno "progrida" automaticamente dentro da escola e que saia dela, vários anos depois de ter entrado, sem ser capaz de interpretar um texto simples e fazer uma conta aritmética singela, não guiou ninguém a nada, não conduziu ninguém a nenhum lugar. E o horror de muitos "educadores" pelas avaliações objetivas da escola, dos professores e dos alunos nada mais é do que uma tentativa de ocultar esse fato.

Depois, a própria palavra "escola" que, no grego, significava um local de repouso, lazer, estudo, destinado àqueles que, livres do trabalho servil, não eram obrigados a fazer o que lhes era imposto. Ou seja, a escola é um local típico para o exercício da liberdade, onde as pessoas encontram paz e ambiente próprio para a meditação e o aperfeiçoamento. Entre nós, essa liberdade tem sido confundida com a ausência total de limites; escolas que são obrigadas a fechar porque os traficantes do bairro mandaram, em que alunos entram com armas e intimidam e agridem professores, nunca serão um lugar desse tipo. No entanto, em vez de proteger a escola e seus ocupantes naturais, professores e alunos pacíficos, dessa violência endêmica que grassa nas ruas desprotegidas e despoliciadas, muitas "autoridades" educacionais preferem adotar uma visão complacente da violência, atribuindo-a às iniquidades e injustiças seculares da sociedade, como se a escola fosse o local ideal para que as frustrações sociais fossem aliviadas a ferro e fogo em cima dos que ali estão para ensinar e aprender.

E "professor"? Vem do latim profiteri, que significa "confessar à frente (de todos)". O professor professa a sua fé diante de todos, não é um mero coveiro cultural, transferindo os ossos do conhecimento de uma tumba para outra. Nem é um delivery de teorias educacionais canhestras, mais preocupadas com a inculcação de estereótipos ideológicos do que com o ato de "criar, nutrir" que define a educação. O professor conduz o aluno num constante diálogo, não o acompanha simplesmente. Pelo menos essa é a crença que professo e, por isso, dediquei aos milhares de alunos que tive ao longo de minha carreira, meu livro mais recente: "Para meus alunos e ex-alunos, com quem aprendi muito do que lhes ensinei".

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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