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John Kennedy encontra uma delegação do Conselho Mundial de Igrejas em 1962.
John Kennedy encontra uma delegação do Conselho Mundial de Igrejas em 1962.| Foto: EUA/Domínio público

Em função do grande destaque da atuação do Instituto Socioambiental (ISA) na agenda ambientalista-indigenista no Brasil, levantada nos trabalhos da CPI das ONGs do Senado Federal, é relevante passar em revista as origens da ONG.

O ISA foi fundado em 1994, a partir do desmembramento do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), entidade vinculada ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), uma das mais influentes organizações do aparato de controle e supervisão que estabeleceu o movimento ambientalista-indigenista como um importante instrumento de intervenção política nos países em desenvolvimento.

O CMI merece atenção especial. Apesar do nome, que indica uma dedicação à promoção do ecumenismo religioso, na verdade, trata-se de uma das organizações-chave do Establishment oligárquico anglo-americano dedicadas à sua longa estratégia contrária aos Estados nacionais soberanos. Já na primeira reunião, em 1937, o britânico Lorde Lothian deu o tom da entidade, ao palestrar sobre “a influência demoníaca da soberania nacional”. Entre os fundadores, do lado estadunidense, destacou-se John Foster Dulles, influente advogado de Wall Street que viria a ser um dos personagens mais influentes na política externa de seu país, até a sua morte, em 1959.

O advento da II Guerra Mundial (1939-1945) adiou o início do funcionamento pleno do CMI até 1948, quando ocorreu a sua fundação oficial em Amsterdam, Holanda. Nos primeiros anos, o CMI recebeu um importante apoio da família real holandesa e, por intermédio do príncipe Bernhard zu Lippe-Biesterfeld, consorte da rainha Juliana, tinha vínculos diretos com o célebre Grupo Bilderberg, do qual Bernhard foi um dos fundadores, atuando como um enlace entre grupos oligárquicos europeus e da América do Norte e ex-figurões do regime nazista de Adolf Hitler, que controlavam vastos recursos transferidos para fora da Alemanha nos meses finais da guerra.

O ISA é uma das ONGs mais ricas do País, com orçamentos anuais que, nos últimos anos, têm se situado na faixa de R$ 60-70 milhões, mais de 90% provenientes de fontes estrangeiras.

Atualmente sediado em Genebra, Suíça, com representações em mais de 100 países, o CMI usa o disfarce do ecumenismo para promover uma pletora de atividades “politicamente corretas” instrumentalizadas contra os Estados nacionais, como direitos humanos, desarmamento civil, proteção do meio ambiente e de povos indígenas e outras. O prédio onde funciona o CMI foi um presente da família Rockefeller.

O CMI atua no Brasil desde 1964, quando apoiou a criação do Centro Evangélico de Informações (CEI), renomeado CEDI dez anos depois.

Em 1971, o CMI foi um dos patrocinadores da Conferência de Barbados, na qual foi lançada a chamada “antropologia da ação”, segundo a qual a ciência antropológica deveria comprometer-se com a “luta de libertação” dos povos indígenas da América Latina. A criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no ano seguinte, contou com um forte apoio do CMI.

O ISA, resultante do desmembramento do CEDI, é hoje uma das mais ativas e influentes ONGs “verde-indígenas” brasileiras, destacando-se, em especial, na manipulação de tais temas para obstaculizar projetos de infraestrutura na Amazônia. Tem sede em São Paulo (SP) e subsedes em Brasília (DF), Altamira (PA), Eldorado (SP), Canarana (MT), São Gabriel da Cachoeira (AM), Manaus (AM) e Boa Vista (RR).

No seu sítio (socioambiental.org), a sua atuação é assim definida:

“O ISA tem hoje seis temas prioritários para nossa atuação política. A partir deles, acompanhamos de perto as propostas de políticas públicas e tomadas de decisão, seja do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário, que possam impactar diretamente povos indígenas, populações tradicionais, seus territórios e direitos coletivos.

“Além disso, a organização busca formular e apresentar alternativas às políticas públicas que resultem no aumento da proteção do meio ambiente e na garantia dos direitos das populações que vivem e preservam seus territórios.

“Monitoramos Terras Indígenas e Unidades de Conservação em todo o país, acompanhando processos de demarcação e criação de áreas protegidas e as ameaças que pairam sobre elas, como desmatamento, obras de infraestrutura, queimadas, mineração, garimpo e roubo de terras (a chamada ‘grilagem’), especialmente na Amazônia Legal, disponibilizando informações para a sociedade e qualificando o debate público.”

Os vínculos do ISA com o aparato ambientalista internacional podem ser avaliados pelo calibre dos seus membros fundadores, que incluem:

* Barbara Bramble: diretora de Projetos Internacionais da National Wildlife Federation (NWF), ativa participante da campanha contra o Projeto Polonoroeste e do “Projeto Chico Mendes”, na década de 1980.

* Stephen Schwartzman: ativista do Environmental Defense Fund (EDF) nos anos 1980, integrante da mesma rede. Trabalhou concomitantemente no INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), no desenvolvimento de laços entre ONGs estadunidenses e brasileiras. Foi também o elo de ligação entre o CEDI e o EDF.

* Willem Pieter Groeneveld: holandês radicado em Rondônia, organizou os seringueiros do estado em nome do capítulo canadense da Cultural Survival. Com o suporte financeiro da ONG Friends of the Earth da Suécia, fundou o Instituto para a Pré-História, Antropologia e Ecologia (IPHAE), sediado em Porto Velho (RO). Recebeu ajuda financeira da agência canadense CIDA para atuar na conferência Rio-92 e foi consultor da embaixada do Canadá no Brasil na seleção de ONGs brasileiras que pudessem receber auxílio financeiro da CIDA. Foi, também consultor da empresa canadense Brascan.

* Tony Gross: agente da Oxfam no Brasil, trabalhou junto ao CEDI.

* Jason Clay: diretor da Cultural Survival. Defende o “nacionalismo étnico” contra o Estado nacional. Também foi consultor da CIDA no Brasil.

A figura-chave para a “decolagem” do ISA foi Márcio Santilli, egresso do CEDI. Santilli, que é formado em Filosofia, foi deputado federal por São Paulo (1982-86) e presidente da Funai em 1995-96. Durante o seu mandato parlamentar, presidiu a Comissão do Índio na Câmara dos Deputados e foi o responsável pela coordenação da ação do aparato indigenista na tentativa de influenciar a Assembleia Constituinte de 1987-88, para implementar o conceito de “plurinacionalidade” no Brasil. Santilli foi participante do programa de lideranças ambientais da agência estadunidense USAID (U.S. Agency for International Development). Atualmente, é presidente do Conselho Diretor do ISA, ao qual também presta serviços com sua empresa Consultoria Ambiental Ltda.

Na CPI das ONGs, Santilli teve que assistir a um vídeo da audiência pública de integrantes da comissão a São Gabriel da Cachoeira (AM), na qual representantes de várias comunidades indígenas fizeram fortes críticas ao trabalho da ONG, principalmente, acusando-a de de "enganar com falsas promessas, ora com até a suspeição sobre a orientação e laudos antropológicos", como afirmou o presidente da CPI, senador Plínio Valério (PSDB-AM).

O ISA é uma das ONGs mais ricas do País, com orçamentos anuais que, nos últimos anos, têm se situado na faixa de R$ 60-70 milhões, mais de 90% provenientes de fontes estrangeiras. Segundo o seu relatório financeiro de 2022, os seus principais financiadores foram: Nia Tero; União Europeia; Good Energies Foundation; Gordon and Betty Moore Foundation; Charles Stewart Mott Foundation; Environmental Defense Fund; CAFOD (Catholic Agency for Overseas Development-UK); Ford Foundation; Rainforest Foundation Norway; Embaixada da Noruega (Brasília); Climate and Land Use Alliance; Instituto Clima e Sociedade; Instituto Arapyaú.

Com suas vinculações internacionais, o ISA é uma das mais poderosas dentre as “tropas de choque” do aparato ambientalista-indigenista que opera contra os interesses e as iniciativas de desenvolvimento do Brasil, contra as quais o País, lamentavelmente, nada faz.

P.S.: Os interessados em conhecer melhor o CMI e suas redes encontram mais informações no livro Quem manipula os povos indígenas contra o desenvolvimento do Brasil: um olhar nos porões do Conselho Mundial de Igrejas, que escrevi em coautoria com minha esposa Silvia Palacios e foi publicado pela Capax Dei Editora em 2013. Vide este link.

Lorenzo Carrasco é jornalista, editor da Capax Dei e presidente do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Coautor de "Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do Governo Mundial" (2001).

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