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Será que acabou a era da farra dos grandes emergentes? Talvez a euforia desmesurada tenha mesmo chegado ao fim. Elogios vindos do exterior a tudo que fazíamos, investimentos pesados em ações negociadas na Bovespa, além, é claro, dos autoelogios do governo federal e das críticas impiedosas às políticas macroeconômicas do mundo desenvolvido, tudo isso parece ter acabado. O fim dessa era de excessivo bom humor pode ser positivo, entretanto. A euforia trouxe a inflação, gerou bolhas em nossa economia e fez parecer que Eike Batista, presidente do grupo EBX, era uma espécie de Midas. E agora, José? A festa acabou...

Precisamos nos concentrar na consolidação de uma economia competitiva. Chegou o momento de sermos eficientes, melhorando de fato nossa infraestrutura, a gestão da máquina pública e diminuindo a carga tributária. Os próximos governos terão de habituar-se a outro padrão de gasto público. Deverão ser eficientes, fazer mais e melhor, com menos recursos.

Certa vez, perguntaram ao ex-governador Jaime Lerner do que uma cidade precisa para ter ideias criativas. Muito sabiamente, ele respondeu: "Cortar o orçamento pela metade". O Brasil precisa aprender essa lição. A cada problema, a cada novo programa, a cada nova promessa, o governo federal alega ter de aumentar uma contribuição aqui, uma taxa ali ou um imposto acolá. Os contribuintes já não aturam mais esse argumento, típico de administrações ineficientes e corruptas.

Neste mês, testemunhamos o fim da multa adicional de 10% do FGTS em demissões sem justa causa. Esse incremento recolhido pelas empresas – durante sua vigência, passou de 40% a 50% – não ficou com os trabalhadores, mas cobriu o rombo dos planos Verão e Collor. Por que o empresariado teve de pagar por um erro do governo? Por que, no Brasil, sempre se aceita o que vem de cima. Contudo, quem está em cima? Em uma sociedade justa e eficiente, seriam os contribuintes. E eles já não aceitarão mais aumento de impostos, especialmente para cobrir despesas e erros de gestão, passados, presentes ou futuros.

Pela dialética hegeliana, possivelmente estamos em um turning point, na antítese da fase perdulária pós-Constituição de 1988. Esperando que venha uma síntese melhor, que trará dias mais animadores à população brasileira. Desse modo, precisamos reconhecer que fomos artificialmente erguidos à condição de país desenvolvido antes mesmo de sermos um país emergente dinâmico. Marketing e bravatas parecem não mais ser suficientes para iludir os brasileiros.

É hora de saber enfrentar nossos graves problemas, e quem deve ditar as mudanças é a população cada vez mais bem informada, que exige mais educação, saúde e transporte; e paga impostos por tudo isso.

João Ramon, mestre em Relações Internacionais e Diplomacia pela Universidade Americana de Paris e pós-graduado em Marketing Político pela Universidade Autônoma de Barcelona, é consultor de relações exteriores.

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