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A Igreja Católica é mal compreendida por "muitos" porque ela, a Igreja, e eles, os "muitos", vivem em universos paralelos. Para que esses dois cosmos se encontrem, são os "muitos" que devem fazer a curva. A Igreja pontifica sobre pressupostos. Os "muitos", sobre "pós-supostos". A Igreja aponta as causas dos problemas. Os "muitos" contornam as consequências.

Exemplo: a Igreja parte do pressuposto de que a disseminação da aids e de doenças sexualmente transmissíveis ocorre por causa do sexo fácil, da propaganda da mulher como objeto, da erotização precoce etc. O que ela faz? Reforça que existe sacralidade no corpo humano e que, como sempre defendeu, a união entre homem e mulher deve ser abrigada no seguro recôndito do matrimônio fiel. Os "muitos" dizem: hoje em dia todo mundo transa desde muito cedo. Use camisinha!

Outro exemplo: exterminar embriões em pesquisas com células-tronco, com o bom fim de curar graves enfermos. O que a Igreja faz? Reforça a tese de que o embrião é vida humana, que não pode, literalmente, ser medida pelo tamanho. E relembra o que muitos não entendem: um meio mau não justifica um bom fim. Os "muitos" alegam que um embrião tem o tamanho de um pingo de "i", não anda e não fala, enquanto adultos poderiam, em tese (cada vez mais em tese), obter a cura de diversos males. Muitos e muitas cientistas incensados pela mídia deram entrevistas anunciando maravilhas à época da aprovação da Lei de Biossegurança. Algum tempo depois, alguns sumiram dos jornais, enquanto outros só aparecem para falar sobre assuntos mais amenos.

A Igreja se debruça sobre 20 séculos de Filosofia. Os "muitos" "formam suas opiniões" com 5 minutos de leitura de revistas semanais, enciclopédias iluministas, sites internéticos e jornais laicos (na verdade laicistas). Para a Igreja, 100 anos são como um dia. Para os "muitos", tudo tem de ser rápido, instantâneo. Partilham da frase daquela canção: "É melhor viver 10 anos a mil do que mil anos a dez".

Mas mesmo quem faz parte dos "muitos" pode aprender, por exemplo, com a renúncia de Bento XVI, desde que tenha pelo menos honestidade intelectual. Os "muitos" viram na renúncia algo decidido em um clique, como fuga (a intolerância de Barbara Gancia), como algo conveniente. Mas, na verdade, o que esse intelectual alemão de intensa espiritualidade deve ter feito? Deve ter ponderado a situação do mundo, a situação da Igreja e a própria situação, tudo diante do Senhor a quem escolheu dedicar a vida e, stricto sensu, ao único a quem deve satisfações. Com serenidade, tomou a decisão.

Lição para os "muitos": antes de tomar decisões de cabeça quente, pondere, analise, anteveja as consequências. Se, além disso, você acredita num ente superior, consulte-o. Ouça o que ele tem a dizer. E decida.

Outra grande lição: mesmo com a decisão que pesava sobre seus ombros, o papa guardou segredo. Afinal, o segredo também foi fruto da análise feita de antemão. Há coisas que só devem ser ditas no momento certo. Antes disso, só você e Deus devem saber.

Roberto Zanin é jornalista e blogueiro.

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