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Nem Marx, se vivo fosse, duvidaria da hegemonia do capitalismo como sistema econômico nos dias de hoje. Não que seja perfeito. Longe disso. Sua virtude está na competência para produzir e acumular riquezas e seu principal defeito, na incapacidade para distribuí-las. Sem ter resolvido esse problema, o mundo o adotou porque a livre concorrência, um de seus princípios fundamentais, induz os agentes econômicos a produzirem cada vez mais e melhor a custos cada vez menores para enfrentarem um mercado cada vez mais globalizado. Distâncias e fronteiras políticas já não são barreiras para ninguém.

O Brasil, logicamente, se insere nesse contexto em que, para ter sucesso nos negócios, a palavra chave é eficiência. Mas, a considerar o desempenho recente e os discursos oficiais, não se leva muito em conta a sua importância. Aparece nos palanques, quase nunca na prática. Vejam a questão da mão de obra. O governo comemora – até com razão – um dos mais baixos índices de desemprego da história do país. Só que, se observarmos o conjunto, não sei se há razões para tanta empolgação.

Com quase toda a população economicamente ativa ocupada, o PIB brasileiro cresceu, no ano passado, pouco mais de 2%. Isso significa que a nossa produtividade é baixa, muito baixa, em relação às grandes economias. Como está, o trabalho de todos os brasileiros nos deixará indefinidamente nesse patamar de crescimento e o resultado vai aparecer da seguinte maneira: o trabalhador brasileiro ganha mal, produz pouco, custa muito e o efeito se traduz em preços mais altos para os produtos e menor competitividade nos mercados. E isso o capitalismo não perdoa, como se vê nos déficits da balança comercial. Importamos bem mais do que exportamos porque o mundo produz mais e melhor do que nós, ou seja, com mais eficiência.

Como mudar esse panorama para não nos atrasarmos ainda mais? Há fatores importantes, como o chamado "custo Brasil", os gargalos da infraestrutura e os péssimos serviços públicos, mas, do ponto de vista do capitalismo – ou melhor, do mercado –, a tarefa maior e mais urgente é aumentar a produtividade porque só assim vamos conseguir aumentar os salários dos trabalhadores, baixar o custo dos produtos (e, consequentemente os preços), estabelecer um processo de desenvolvimento consistente e duradouro e competir no mundo. Simples, não?

Acontece que aumentar a produtividade não se faz num passe de mágica ou por decreto, como demonstra muito bem o agronegócio brasileiro. Exige investimentos em tecnologia, processos, equipamentos e capacitação de mão de obra e algum tempo para colher os frutos. E quem está disposto, hoje, a investir num ambiente em que as regras podem mudar a qualquer momento, os fundamentos econômicos são tratados de acordo com as circunstâncias e a falta de credibilidade das autoridades coloca mais dúvidas e incertezas do que confiança em nossas possibilidades futuras?

O Brasil precisa deixar claro o caminho a seguir para que os agentes econômicos possam planejar com segurança os seus negócios. Se quisermos ocupar os primeiros lugares no cenário econômico mundial, crescer mais e de forma consistente, aumentar a riqueza para ter o que distribuir, a tarefa de produzir deve ser confiada aos empresários de acordo com os princípios do capitalismo, como faz o mundo todo – até a China. Ao Estado cabe somente o papel de fiscalizar, estabelecer regras e regulamentos e simplificar as exigências que inflam o "custo Brasil". Cabe, também, corrigir a ineficiência do capitalismo para distribuir a riqueza gerada com impostos criteriosos e suficientes para promover a justiça social; resistir aos apelos para se imiscuir em segmentos produtivos, transformando-se em Estado-empresário, com cargos a distribuir e políticos a acomodar; e, finalmente, explicar para todos nós por que o governo brasileiro, diante da precariedade da infraestrutura do país, da situação calamitosa da educação, da saúde e da segurança pública, investiu na construção de um porto em Cuba. Se o dinheiro aplicado lá não faz falta aqui, então está faltando eficiência – olhem de novo a palavra aí – para planejar e executar programas e obras que melhorem a mobilidade urbana, o transporte da produção e os serviços públicos.

João Elisio Ferraz de Campos, empresário e ex-governador do Paraná.

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