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Dez anos depois da crise dos subprimes, já vemos sinais do que pode ser uma nova crise no mercado americano e que, sabemos, poderia afetar outras economias mundiais inclusive a brasileira.

Desta vez, trata-se de um desequilíbrio fiscal resultado das políticas de reformas do sistema tributário que ao cortar impostos não produziu as riquezas esperadas em uma economia que já vivia seu pleno emprego e que terminou por fazer com que tais recursos excedentes de caixa desta desoneração fossem usados pelas empresas para a recompra de suas próprias ações e distribuição de dividendos, em detrimento de novos investimentos.

Outras medidas também, como o protecionismo comercial, redirecionaram o consumo para produtos nacionais em uma espécie de modelo de substituição, praticado no Brasil a partir da década de 1930 a 1961. Bens de consumo e commodities internacionais equivalentes, portanto, passaram a custar mais caro a partir de sobretarifações, política esta que vem levando a economia americana, país bastião do liberalismo, pelo caminho da contracorrente das forças de uma economia aberta e de livre mercado. A famosa mão invisível que acomoda a oferta e demanda.

Consonante ao protecionismo comercial, o governo impôs barreiras migratórias para o imigrante que vem ao país para cortar a grama, lavar louças e limpar ruas, trabalhos que os nativos americanos não querem fazer, mas se o fazem, cobram mais dólares por hora que o imigrante, o que termina por efervescer ainda mais o caldo inflacionário desta sopa que cozinha lentamente na panela de pressão da econômica americana.

Outras medidas, como o protecionismo comercial, redirecionaram o consumo para produtos nacionais

Ainda que não seja assunto muito falado nestes tempos, como também não foi até setembro de 2008, poderia tratar-se de um prenúncio de uma crise que aparece subitamente, tal qual foi a última, mas que nunca deixou de manifestar sintomas como se deu no episódio do Banco The Bear Stearns seis meses antes do Lheman Brother ir à bancarrota. Poucos perceberam, ou ainda poucos “quiseram perceber” os sinais.

Uma década depois da hecatombe financeira que se alastrou pela Europa e em bastante menor grau pela América Latina, o mercado apresenta sinais que merecem atenção de um sistema que sugere estar sobreaquecido, de uma economia que já no primeiro trimestre de 2018 apresentava como endividamento das famílias americanas um valor que chegou nominalmente a US$ 13,3 trilhões, superando assim os US$ 12,68 trilhões do segundo semestre de 2008, período da crise.

Ao final de 2008 a dívida pública americana era de US$ 9,9 trilhões e o PIB de US$ 14,71 trilhões, portanto 67,3% na relação endividamento/PIB. Em dezembro de 2017 a dívida americana alcançou US$ 20,21 trilhões em relação a um PIB de US$ 19,38 trilhões, portanto, 104,28% na relação endividamento/PIB.

Este foi o resultado de instrumentos de políticas fiscais como o quantitative easining (compra de títulos e ativos para estimular a economia), praticados pelo governo na operação de salvamento da crise de 2008, e que deveria estar passando por um processo neste momento de desalavancagem através de abertura de mercado, corte de gastos e eficiência da máquina pública, ou seja, tudo o que se está praticando às avessas.

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Existem ainda outras correlações importantes nesta análise macroeconômica como, por exemplo, a da situação do mercado imobiliário que é coluna vertebral de qualquer economia de não subsistência (rudimentar), diversificada e aberta, como é a americana.

No período pré-crise, os ativos imobiliários de renda eram negociados a cap rates (renda dividida pelo preço) que variavam entre 6,5% a 7,5%. Atualmente a compressão dos cap rates flutua para o segmento industrial, varejo e escritórios em todos os casos abaixo de 6,63% (propriedades triple A). Trocando em miúdos, quanto mais baixo os cap rates, mais altos serão os preços dos ativos, que neste caso já estão mais caros que no período pré-crise, mesmo considerando a inflação incorrente.

Crônica de morte anunciada ou não, do ponto de vista macroeconômico é preciso estar especialmente atento a curva de juro americana que vinha promovendo um movimento ascendente nas taxas de dividendos (yield) de longo prazo, e isso em razão de um possível movimento inflacionário que no final de 2018 estava acima dos 3,2% para o treasury de 10 anos. Agora vemos uma inversão em que os mesmos títulos pagam 10% menos e os títulos de 5 anos e de mais curto prazo tornam-se melhor opção a cada dia. A leitura histórica desta inversão da curva de rendimento é de recessão no longo prazo. Neste caso estagflação. A história se repete. É preciso não ignorar os sinais.

Alexandre Nigri é CEO do Grupo Maxinvest.
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