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No país-do-não-sei-de-nada, a impunidade campeia e governa, acompanhada, não raras vezes, pela delinqüência consentida. Ou melhor, ela desgoverna. A invasão do MLST à Câmara Federal, anteontem, extrapolou. Mas, mesmo que vestíssemos a carapuça do país sem memória, é forçoso lembrar que este vandalismo causou espanto ao país ainda em abril de 2005, quando o mesmo movimento invadiu o Ministério da Fazenda, possuindo-o, à sua maneira, durante seis horas. Era o mesmo grupo que fora recebido pelo presidente Lula, em 2004, com direito a boné na cabeça e tudo. Mas o apoio não ficou só no boné. O governo federal destinou R$ 9 milhões à sigla.

A impunidade verdadeiramente governa. Aliás, comemora aniversário. Na semana em que as primeiras denúncias sobre o mensalão faziam seu primeiro aniversário, a Câmara do Deputados (palco de repetidas demonstrações de banditismo, diga-se de passagem) foi invadida de forma abominável. Há quem conclua que ações deploráveis praticadas por muitos parlamentares foram comemoradas com a visita de seus iguais – os vândalos do MLST.

Nasce onde o descaramento contra as leis? Nasce na contemporização de ataques à propriedade privada; nos escândalos rotineiros com participação de parlamentares e administradores públicos; nasce na sensação de que "nada vale a pena, tudo continua como antes" ao se analisar resultados de episódios como o mensalão, como o sanguessuga, como a corrupção desenfreada; nasce no Estado paralelo comandado pelo tráfico; nasce em ações patéticas do governo nas relações internacionais, com pitos públicos de Bolívia (!), Venezuela... O estímulo à impunidade nasce em inúmeras fontes. E ela cresce de forma assustadora.

Nossos sonhos de uma sociedade democrática e próspera, que vinham se transformando em insônia, agora viraram pesadelo. Não queríamos esta realidade. E, no entanto, estamos aceitando sua lógica, nos resignando com os crimes sem castigos. Não por acaso a anomia esta aí, perante nossos olhos, real e cruel.

Vivemos uma situação social com falta de ordem e coesão. As normas são definidas de forma ambígua e implementadas de maneira arbitrária. Anteontem, por exemplo, a anomia foi comemorada com anomia. Ou seja, a falta de respeito à lei, a impiedade e a iniqüidade foram celebradas com a injustiça e com a desordem. Para não ser injusto, é necessário reconhecer a atitude firme do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em dar ordem de prisão aos baderneiros. Assim como a pronta manifestação de parlamentares, como a senadora Heloísa Helena, condenando frontalmente o terrorismo praticado pelo MLST, apesar de se identificar com as teses da esquerda. Aliás, esta baderna, coordenada por Bruno Maranhão, membro da Executiva Nacional do PT, merece reflexões suprapartidárias.

No nosso país são freqüentes as ações de vandalismos em escolas, em praças, em telefones públicos e, especialmente, com os recursos públicos. A falência do atendimento médico-hospitalar, o abandono das escolas, a falência do sistema penitenciário, entre outros males, são resultantes da fraqueza da lei ou da falta de sua aplicação. Devido ao baixo nível de educação, de conscientização da maioria dos brasileiros, há um desconhecimento de que toda vez que alguém picha, quebra, destrói e dá desfalque, está pichando, está destruindo, está roubando o nosso patrimônio. A escola, a praça, o telefone e o dinheiro público são nossos.

Essa inconsciência social e inconsistência cidadã permitem que, mesmo com a ruína ética do governo, o presidente Lula utilize estratégias oportunistas dirigidas às camadas mais miseráveis e ignorantes da população e que se cale ou se finja de morto ou diga que nada sabe diante de ações predatórias não só como a do MLST, anteontem, mas da sua matriz (MST), entre outros exemplos.

Para evitar o triunfo do mal, para que a sociedade abomine ações antidemocráticas desta natureza, devemos exigir que o presidente Lula não se limite a expressar sua posição por meio de notas de porta-voz em relação ao vandalismo. Devemos exigir, como é perfeitamente natural em sociedades respeitosas ao Direito, que ele venha a público e fale à Nação sobre mais esta ação danosa a todas as pessoas de bem. Caso contrário teremos, mais uma vez, a certeza que de fato vivemos em uma sociedade "legalmente" regida pela moral da delinqüência.

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