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 | Geraldo Magela
/Agência Senado
| Foto: Geraldo Magela /Agência Senado

Há uma desolação da maioria dos brasileiros, especialmente entre aqueles que sonham com um país melhor. É um sentimento de impotência e desânimo que está levando boa parte da população à depressão, fato comprovado por médicos, da mesma maneira que atestam que o consumo de antidepressivos tem sido espantoso nos últimos tempos. Não é para menos.

O que vemos por meio da mídia e das redes sociais, a cada hora, acompanhando os noticiários, é de estarrecer. Um verdadeiro filme de horror. Não há dia em que algo escabroso e surpreendente (aliás, ninguém se surpreende mais) surja no noticiário envolvendo a classe política deste país. Vejam o exemplo do casal carioca Bonnie & Clyde, que atende pelo sobrenome de Cabral. Roubava descaradamente como se não houvesse amanhã.

Vamos a outros fatos. Até alguns dias atrás, o deputado Eduardo Cunha era presidente da Câmara Federal, um dos homens fortes da nação, com nossos destinos ligados às suas decisões e, ao mesmo tempo, com uma das fichas mais sujas deste país. Depois de tanto desgaste à nação, acabou preso. Só não sabemos até quando.

Mais grave ainda: tivemos durante oito anos um ex-presidente da República com comprovação de farto material de denúncias contra ele e sua família, um verdadeiro chefe de quadrilha que assaltou e pilhou o país de maneira escandalosa. Éramos governados por um “quadrilheiro”, que deixou sucessora (apeada do poder pelo seu desgoverno), que a qualquer momento pode ser preso, mas que ainda assim figura nas pesquisas para retornar ao Planalto em 2018.

Não há dia em que algo escabroso e surpreendente surja no noticiário envolvendo a classe política deste país

Mais recentemente, houve o caso do senador Renan Calheiros, presidente do Senado, outro super-homem da política, mas com ficha corrida de fazer inveja a Fernandinho Beira-Mar. Como já foi ministro da Justiça, se dá ao direito de ter apenas 12 processos criminais nas costas, também por desvio de dinheiro público e corrupção. Seu caso é gravíssimo, porque peitou e venceu a mais alta corte brasileira, o Supremo Tribunal Federal, e expôs sua fragilidade. Mesmo com sua desobediência, Renan teve o respaldo da Mesa Diretora do Senado, que o socorreu, em flagrante desrespeito à lei.

Que país é este? Nossos principais governantes estão envolvidos com a polícia por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Que diferença há entre esses personagens e os chefões do PCC ou do CV? Só porque usam gravata e falam bonito? Que país é esse em que a suprema corte perdeu a autoridade? Quem pode se sentir seguro dessa maneira?

Como pode o STF ficar refém, ou mesmo ceder, para apaziguar os ânimos do Congresso ou ainda para atender a uma necessidade imediata do presidente da República, e não desrespeitar a Constituição? Ou pior, ter de achar um jeitinho para quebrar o galho de um réu na Justiça que não acatou suas ordens? Como podemos confiar na mais alta corte, quando seus ministros titubeiam ante a fatos que os põem em xeque? Como podemos confiar nesses ministros que se envolvem em questões conflituosas e duvidosas, oscilando entre a coerência e a incoerência?

Como podemos acreditar nos julgamentos desses doutos senhores se os vimos rasgar a Constituição, como quando o ministro Lewandowski fatiou o impeachment de Dilma? Ou quando este mesmo senhor se encontrou na calada da noite com membros do governo do PT em um hotel em Lisboa? Ou mesmo quando um Dias Toffoli senta-se em cima de processos ad aeternum? Sem falar no descalabro que é a mordomia desses senhores.

No livro Número Zero, de Umberto Eco, os personagens falam da criação da “liga dos honestos”, alusão a um velho romance de Giovanni Mosca. Aborda a “sagrada união” de honestos que precisavam se infiltrar entre os desonestos para desmascará-los e, enfim, convertê-los à honestidade. Mas, para poderem ser aceitos pelos desonestos, os integrantes da liga precisavam se comportar de modo desonesto. Aos poucos, a liga dos honestos se transformou numa liga de desonestos.

A ficção pode ser transportada à realidade atual do Brasil?

Cláudio Slaviero, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.
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