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A normalidade da pós-pandemia só é viável por um caminho, o da natureza
| Foto: Pixabay

É consenso no meio acadêmico, e partilhado pela maioria dos líderes governamentais, o entendimento de que o planeta Terra passa por uma crise ambiental sem precedentes. Isso se deu pelo grande avanço da ciência do clima e da ecologia nas últimas décadas, principalmente após 1972 com a primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

O mês de junho foi então consagrado como o principal momento no qual a humanidade dialoga sobre nossa grande casa comum - a Terra. A cada ano o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente elege um tema específico para ser melhor abordado e, em meio a pandemia da Covid-19, que não custa lembrar é causada por uma zoonose, não haveria melhor escolha do que anunciar aos quatro cantos do planeta sobre a importância da biodiversidade. Nesse 5 de junho, quando comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, a grande questão não poderia ser outra senão de que é a #horadanatureza.

A Terra passa atualmente pela sua sexta extinção em massa. Isso quer dizer que num curto espaço de tempo um número considerável de espécies deve desaparecer do planeta. Para termos a noção da gravidade, o último evento dessa magnitude aconteceu há 66 milhões de anos, no período cretáceo, quando 75% das espécies da época - incluindo boa parte dos dinossauros - foram extintas da Terra após o impacto de um asteroide.

Nessa linha de análise, um robusto relatório apresentado no ano passado pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e que reuniu 145 pesquisadores do mundo todo apontou que 1 milhão de espécies no mundo corre risco de extinção. As causas que conduzem para essa iminente catástrofe, entretanto, não são nenhuma surpresa e envolvem o consumismo exacerbado da parte abastada da população mundial e as falhas em políticas públicas e de planejamento. O relatório destaca em ordem crescente os seguintes fios condutores: espécies invasoras, poluição, mudanças climáticas, exploração direta de organismos e em primeiro a mudança no uso da terra e do mar.

Mudar o uso da terra no Brasil pode ser entendido como o uso de trator, “correntão” e motosserras para por abaixo florestas centenárias e que abrigam uma infinidade de animais e plantas para então pôr fogo e depois talvez negociar a área ou avançar com algum cultivo ou criação. Esse modus operandi de séculos atrás ainda persiste pela nossa incapacidade de disseminar implementar técnicas – já existentes – de desenvolvimento com a floresta em pé.

Enquanto o Brasil vive nos dias atuais o atraso e o caos na sua gestão ambiental, expressados nos repetidos e infames recordes de queimadas e desmatamento e na forma reativa às ações efetivas de proteção ambiental por parte dos seus órgãos oficiais, a ONU declarou 2021-2030 como a Década sobre Restauração de Ecossistemas. Esse é um reconhecimento do quanto nossos ambientes estão degradados e mostra que boa parte do mundo já empenha estratégias de como devemos adaptar as ações humanas para o enfrentamento da crise ambiental que está colocada.

Devemos sim comemorar o fato do Brasil ser o país – ainda – mais rico em biodiversidade do planeta e celebrar nossas áreas protegidas e espécies fenomenais que aqui habitam. Mas com a crise ambiental que vivemos e a mudança de paradigma que a pandemia nos oportuniza, o imperativo é abrir os olhos e arregaçar as mangas para não se perder mais florestas, não retroagir em políticas públicas e muito menos deixar a boiada passar. A hora é da natureza!

Gustavo Góes, gestor ambiental na Ong Meio Ambiente Equilibrado e mestre em Biodiversidade e Conservação em Habitats Fragmentados.

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