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No início dos anos 60 d.C., o médico Lucas, discípulo de Jesus, narrou a parábola do administrador infiel, da autoria do Mestre. Ela é conhecida e pode ser lida no Livro Sagrado, em Lucas 16. Segundo o médico, corriam boatos sobre a desonestidade de um administrador infiel e suas trapaças. Ele lesava o rico patrão e, ao ser pego e despedido, para conquistar a amizade dos devedores e garantir um amparo futuro, deitou e rolou com o dinheiro que não lhe pertencia.

O mundo progrediu e a natureza humana continua diabólica. O petrolão é o maior escândalo brasileiro e desmascara a máfia dos empreiteiros, arrasta políticos e um fiel lavador de dinheiro, a jato. Se a ladroagem do dinheiro público é grande, maior é o descaramento dos que se fazem de santinhos.

Esse administrador da parábola, assim como em nossas CPIs, soube manobrar os prazos regimentais e os resultados. A mídia do nosso tempo registra o que os modernos infiéis fazem com o dinheiro público. Alguns políticos não se contentam com emendas parlamentares e buscam maiores vantagens mergulhando nas profundezas do pré-sal. É nisso que dá a reeleição! Sabiamente, Louis McHenry Howe ensina que "não se pode adotar a política como profissão e permanecer honesto".

Tanto em 60 d.C. como agora, todos foram pegos com a mão no jarro. A diferença é que o esperto da parábola antiga renegociou os créditos do patrão em troca de amparo futuro e os atuais desfrutam a jato e vivem nababescamente com o dinheiro do povo.

Junto com a CPMI surgiram piadas aos borbotões e os eleitores ficam como hienas – fazem amor uma vez por ano, comem excrementos e riem da própria desgraça. Merece destaque que o patrão dos anos 60 a.C. jamais alegou que "nada sabia, nada via e nada ouvia". A frase de Henri Béraud se encaixa com precisão: "Nos bancos do Parlamento, é difícil estabelecer a diferença entre os homens capazes e os homens capazes de tudo".

Se a esperteza dos infiéis causa admiração, a desfaçatez é tão grande que nós, os bobos da corte, ficamos com cara de palhaços. Uma maneira confortante de engolir a jato esse bocado difícil é a lembrança de uma máxima árabe: Deus às vezes castiga os homens, enriquecendo-os.

A parábola antiga traz duras conclusões: "Na verdade, as pessoas deste mundo são mais espertas (nos seus negócios desonestos) do que aqueles que amam a Deus" e acrescenta: a trapaça não compensa porque isso não vai garantir a entrada no Reino de Deus. E, ainda, que quem não é honesto nas coisas pequenas não será nas grandes. Se vocês enganam um pouquinho só, não serão honestos nas responsabilidades maiores; se vocês não são dignos de confiança nas riquezas deste mundo, a quem confiar os tesouros do céu?

Como os infiéis da parábola moderna não estão preocupados com a vida além-túmulo, é melhor que não saibam sobre esse tesouro no céu...

Conclui a parábola milenar: Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. E, como os hipócritas da época zombaram disso, o Mestre fulminou: "Vocês fazem pose de dignidade e bondade em público, mas Deus conhece os seus maus corações". E sentenciou: "O fingimento faz vocês receberem o respeito do povo, porém pecam perante Deus".

Frederico II, o Grande, rei da Prússia, já na parábola moderna encaixou esta pérola: A trapaça, a má-fé e a duplicidade são, infelizmente, o caráter predominante da maioria dos homens que governam as nações.

Terrível, não?

Esta analogia mostra que, em milhares de anos, os homens não aprenderam com os próprios erros e muito menos com os dos outros, e que a história não é cíclica, ela apenas registra a conduta repetitiva dos homens. Se for ruim saber que quem não é fiel num tostão jamais será num milhão, terrível é constatar que os desonestos aproveitam o presente e nem sempre terminam seus dias na Papuda – acabam em prisões domiciliares.

Para a parábola moderna, George Horace Lorimer conclui que "É bom ter dinheiro e as coisas que o dinheiro pode comprar, mas é bom verificar se não estamos perdendo as coisas que o dinheiro não pode comprar".

Eudes Moraes é escritor, poeta, ensaísta e romancista.

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