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Todos os nascidos a partir do ano 2000 conviveram com a pornografia desregulamentada na internet. Entre as crianças, processos judiciais recentes demonstram que a disseminação da pornografia leva a relacionamentos futuros instáveis, agressão sexual, comportamentos sexuais prejudiciais e até mesmo doenças mentais. Entre os adultos, como já mostrei, o uso de pornografia tornou as pessoas mais insensíveis, menos afetuosas e menos enérgicas.
Os críticos da pornografia sempre se preocuparam com o fato de que tornar esse conteúdo mais acessível aumentaria a criminalidade e a delinquência, além de prejudicar a vida familiar, a fidelidade, a decência pública e a felicidade.
As ciências sociais comprovaram muitas dessas alegações. A pornografia leva os usuários a buscarem conteúdo cada vez mais degradante, produz uma série de efeitos na saúde mental e física e destrói relacionamentos.
Cientistas sociais desenvolveram a “teoria da escalada” da pornografia. De acordo com essa hipótese, aqueles que assistem a pornografia se entediam com atos sexuais “mundanos” e são atraídos por materiais mais frequentes, intensos e com fetiches.
Estudos recentes e relatos anedóticos reforçaram essa teoria. Um artigo de 2023 publicado na Scientific Reports, baseado em entrevistas aprofundadas com 67 espectadores frequentes de pornografia, descobriu que muitos buscavam conteúdo mais “extremo” ou sessões de visualização mais longas para se sentirem excitados.
Em um artigo de 2024 publicado na Addictive Behaviors, os mesmos autores entrevistaram quase 1.500 usuários masculinos de pornografia e descobriram que os usuários frequentes desenvolveram tolerância “quantitativa” (a capacidade de consumir mais pornografia, levando a maratonas) e tolerância “qualitativa” (a capacidade e o desejo de assistir a gêneros mais exóticos). A existência de “gooners” — membros de clubes de visualização de pornografia e masturbação, recentemente perfilados na Harper’s — também corrobora essa tese de escalada.
A incrível variedade de pornografia também reforça a teoria da escalada. O relatório “Retrospectiva do Ano de 2024”, do Pornhub, cataloga o volume e a variedade de pornografia disponível. O livro de Obi Ogas e Sai Gaddam, de 2012, Um Bilhão de Pensamentos Perversos: O Que a Internet Nos Diz Sobre Relacionamentos Sexuais, faz o mesmo.
Uma cultura perversa se ofenderá menos com perversões como o tráfico sexual ou a pornografia infantil
Como escreveu o falecido Harry M. Clor, “As crianças não serão protegidas... se os padrões de decência dos adultos forem corroídos”. A oposição atual à pornografia infantil, na medida em que existe, depende da disposição de defender a inocência infantil.
As ciências sociais confirmam que aqueles que consomem grandes quantidades de pornografia na internet desenvolvem atitudes cínicas em relação a inocentes. Embora os usuários frequentes não cometam mais estupros, eles se importam menos com o crime de estupro. Eles também se tornam insensíveis a crimes hediondos, como a bestialidade.
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Danos ocultos à mente e ao corpo
O uso frequente de pornografia também está associado a uma série de efeitos na saúde mental. Um estudo de 2017 publicado na revista Society and Mental Health constatou que os sintomas depressivos são 36% maiores entre usuários frequentes de pornografia do que entre aqueles que se abstêm.
Um estudo de 2024 publicado na revista Sexual Health & Compulsivity observou uma estreita relação entre o “uso problemático de pornografia” e a depressão. Um artigo daquele ano, publicado na revista Psychology and Addictive Behaviors, relatou que o aumento do uso de pornografia estava relacionado a um aumento nos pensamentos e comportamentos suicidas.
Outro efeito é a disfunção erétil. Em 2007, pesquisadores do Instituto Kinsey estiveram entre os primeiros a identificar a “disfunção erétil induzida por pornografia”. Entre os homens jovens, a DE é “alarmantemente alta”, aumentando de 2% a 5% em 1999 para 20% a 30% no final da década de 2010, segundo um estudo de 2021 publicado no Journal of Medical Internet Research.
Um artigo de 2019 na revista Dignity observou que muitos usuários de pornografia só conseguem manter uma ereção assistindo a “pornografia extrema e acelerada” e consideram o sexo com um parceiro real “insosso e desinteressante”.
O vício que destrói relacionamentos
A explosão da pornografia na internet coincidiu com um declínio global no sexo, no casamento e nos relacionamentos amorosos. Isso não é coincidência. Uma revisão da literatura de 2024 publicada no periódico Archives of Sexual Behavior constatou que pessoas excitadas por pornografia apresentam “declínios significativos na satisfação sexual e na qualidade e estabilidade dos relacionamentos ao longo de um período de dois meses”. Outro artigo do Archives, de 2020, relatou que nenhum estudo demonstrou claramente que “o uso de pornografia [está]... positivamente associado à qualidade do relacionamento”.
A pornografia parece ser um fator no crescente número de divórcios. Advogados especializados em divórcio concordam. Alguns sociólogos e a revista Science também, afirmando que as taxas de divórcio dobram quando um dos cônjuges começa a assistir pornografia.
O uso de pornografia geralmente reduz a qualidade do relacionamento e, como mostram os estudos, diminui a qualidade do casamento entre pessoas religiosas mais do que entre a maioria.
As ciências sociais são claras: o uso frequente de pornografia leva as pessoas a consumirem conteúdo extremo, mina a moralidade pública, prejudica a saúde dos usuários e acaba com casamentos. Qualquer solução para os problemas de relacionamento em nossa cultura deve abordar essas questões — e suas origens.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Porn Is Poisoning Our Culture



