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| Foto: Miguel Schincariol/AFP

Depois de encolher 6,9%, no biênio 2016-2017, o PIB brasileiro cresceu 1%, em 2017, puxado pela combinação virtuosa entre resposta da demanda doméstica ao recuo consistente da inflação e dos juros e efeitos da continuidade da generalizada recuperação do comércio internacional, agraciada pelo estancamento da desaceleração chinesa e a reação dos preços das commodities.

Mais precisamente, o desempenho positivo foi determinado, setorialmente, pela agropecuária (13%) e indústrias extrativas (4,3%), havendo ainda tímidas elevações do comércio (1,8%) e indústria de transformação (1,7%) e substancial retração na construção civil (-5%). Pela ótica da demanda agregada, os sinais ascendentes foram emitidos pelas exportações (5,2%) e consumo das famílias (1%), com comportamento negativo das compras governamentais (-0,6%) e da formação bruta de capital fixo (-1,8%), fazendo a taxa de investimento cair de 16,4% do PIB, em 2016, para 15,6% do PIB, em 2017, o menor nível da história.

A grande indagação que se levanta compreende as chances de a modesta reativação dos níveis de atividade vir a se transformar em robusta retomada do crescimento econômico da nação. Decerto, a situação desejável abrangeria o prosseguimento da atmosfera virtuosa no front externo, com ajustes graduais e moderados nas taxas de juros globais, de modo a conter ímpetos inflacionários, em paralelo ao revigoramento dos mercados compradores dos principais produtos exportados pelo Brasil.

A autoridade monetária brasileira poderia adotar novas rodadas de diminuição dos juros primários

Por enquanto, a postura arisca dos mercados de risco não coaduna com o equilíbrio sincrônico dos principais pedaços da economia mundial. Em bom português, ou economês, a ascensão da economia global, desde os primórdios da presente década, cada vez mais disseminada geograficamente, tem se reproduzido de forma plena no mercado de trabalho, sem a geração de maiores tensões no campo dos preços ou focos especulativos nas carteiras de ativos, o que permite descartar a ocorrência de alterações bruscas na remuneração dos papéis controlados pelos bancos centrais.

Nessas condições, a autoridade monetária brasileira poderia adotar novas rodadas de diminuição dos juros primários, em linha com o controle das pressões inflacionárias, o que favoreceria a consolidação, ao longo do corrente ano, da revitalização do mercado de ocupações e da diminuição das margens de capacidade ociosa da indústria.

Leia também: Responsabilidade ou populismo (editorial de 14 de janeiro de 2018)

Leia também: Ajuste fiscal: o debate necessário na campanha eleitoral (artigo de Adolfo Sachsida, publicado em 21 de fevereiro de 2018)

Partindo da pressuposição de interrupção da tramitação das mudanças institucionais (tributária, fiscal, financeira, patrimonial e previdenciária) no Congresso Nacional, absolutamente essenciais para a restauração do equilíbrio estrutural das finanças públicas e a impulsão da eficiência da microeconomia, ficará para o escolhido pelas urnas para ocupar a cadeira presidencial a partir de janeiro de 2019 – e detentor de inquestionável capital político – a tarefa de preparação e exaustiva discussão coletiva de uma agenda de desenvolvimento.

Se o contrato acordado ao longo do evento eleitoral de 2018 apresentar traços e propostas reformistas, emergirão referências concretas para a edificação da retomada do crescimento em bases duradouras e a abertura de flancos para a transformação do país em um verdadeiro canteiro de obras e projetos inovadores, diante dos flagrantes atrasos das inversões em infraestrutura econômica e social, suficientes para abortar qualquer movimento progressivamente ascendente da produção e negócios.

No entanto, se a retórica populista (de qualquer lado) prevalecer e for brindada com um mandato democrático, é lícito admitir a abdicação da preservação da estabilidade macroeconômica, o retorno da farra fiscal e da utilização pouco criteriosa dos recursos das agências de fomento públicas e, por extensão, o plantio das sementes de nova safra recessiva.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, professor da FAE Business School e ex-diretor presidente do Ipardes.
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