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A ciência econômica atesta o estado de recessão quando ocorre a queda do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação ou região por dois trimestres consecutivos. Mas a necessidade de extirpar a influência exercida por choques de oferta considerados acidentais, expressos normalmente por quebras de safras agrícolas, leva à associação do fenômeno recessivo a colapsos verificados primordialmente no setor industrial.~Nesse sentido, as estatísticas de evolução da produção industrial brasileira no primeiro trimestre de 2009, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam a condição de recessão técnica vivida pelo país desde a eclosão da crise financeira internacional, em outubro de 2008. Ela é transmitida domesticamente pela retração da demanda, dos preços e do crédito.

Ressalte-se que isso ocorre a despeito do derrame de mais de R$ 280 bilhões no mercado, por intermédio do esforço empreendido pela orientação macroeconômica do governo federal entre outubro de 2008 e abril de 2009. Tal esforço engloba devolução de parcela dos recolhimentos compulsórios, abertura e/ou ampliação de linhas de crédito, pacote habitacional e desonerações tributárias para automóveis, materiais de construção e eletrodomésticos de linha branca, acrescido de ações pontuais de algumas instâncias públicas subnacionais.

De fato, o volume de produção do parque manufatureiro observou queda de 6,3% e 14,7% nos últimos três de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, respectivamente, quanto confrontado com idênticos períodos dos anos imediatamente anteriores. O declínio computado entre janeiro e março de 2009 foi o maior desde o mesmo intervalo de 1991 (15,2%), afetado decisivamente pela variação negativa na produção de metalúrgica básica (-30,8%), máquinas e equipamentos (-28,3%), veículos automotores (-27,2%) e outros produtos químicos (-21,1%).

Enquanto na metalúrgica básica as baixas mais relevantes estiveram ligadas a fundidos de ferro e embalagens metálicas, resultado da compressão das cotações externas dos minérios, em outros produtos químicos a contração pode ser explicada pelo fraco desempenho de adubos, fertilizantes e corretivos, atrelado à nova onda de deterioração dos termos de troca dos produtos do agronegócio, determinada pela derrubada dos preços das commodities e agravada pelos problemas climáticos no Centro–Sul brasileiro.

O encurtamento dos níveis de atividade de fabricação de automóveis revela que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vigente a partir de dezembro de 2008 contribuiu fundamentalmente para a desova de estoques das montadoras sem conseguir estimular diminuições mais substanciais nas margens de ociosidade das empresas. Aliás, percebe-se sinais de exaustão do processo de recuperação das vendas do segmento automotivo iniciado em dezembro de 2008. Essa sinalização é emitida pela queda de 13,6% na comercialização de veículos, verificada em abril de 2009.

Pela ótica das categorias de uso, as diminuições de produção mais expressivas aconteceram em bens de consumo duráveis (22,5%), bens de capital (-20,8%) e bens intermediários (-18,1%), com encolhimento menor para bens de consumo semi e não duráveis (-3%). No caso de bens duráveis, a performance desfavorável pode ser imputada à insuficiência e ao encarecimento do crédito e ainda à adoção de posturas mais cautelosas por parte dos consumidores, em face da conjugação entre elevação da inadimplência e aumento do temor do desemprego.

Contudo, o que chamou mais atenção foi a regressão da produção de bens de capital (9,4% no último trimestre de 2008 e –19,3% no 1º de 2009, a maior depois do tombo de –29,7% do 1º trimestre de 1996), evidenciando a interrupção de um ciclo de retomada dos investimentos superior a cinco anos, corroborada pela diminuição dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiamento de máquinas e equipamentos de 6,2% e 32,7% no primeiro trimestre de 2009, diante do mesmo período e do derradeiro trimestre de 2008.

Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordena o Curso de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário

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