A Universidade de São Paulo é a maior e a melhor universidade de pesquisa do Brasil. Como tal, a USP é uma marca amplamente conhecida e usufrui de uma boa reputação nacional e internacional. Na tentativa de inferir sobre a percepção do prestígio das instituições, o Times Higher Education (THE) World Reputation Rankings tem como objetivo classificar as universidades de pesquisa segundo a reputação internacional. A edição de 2022 foi publicada recentemente e trouxe a USP e a Universidade de Campinas (Unicamp) como as únicas brasileiras listadas.
A USP está no grupo das 81–90, e a Unicamp no bloco das posições 151–175, resultados idênticos aos observados na edição de 2021. As cinco instituições mais bem classificadas na edição de 2022 são, nessa ordem: a Universidade de Harvard (EUA), o MIT – Massachusetts Institute of Technology (EUA), e as universidades de Stanford (EUA), de Oxford(Reino Unido) e de Cambridge (Reino Unido). Entre as dez primeiras, apenas duas não são dos Estados Unidos e Reino Unido: as universidades de Tsinghua (China) e de Tóquio (Japão), em nono e décimo lugares, respectivamente.
Analisar criticamente os rankings universitários e utilizar os resultados para avaliar o presente e planejar o futuro é bom; celebrar os resultados pretensamente positivos e ignorar os negativos, não.
O World Reputation Rankings é baseado numa extensa pesquisa de opinião em que acadêmicos experientes respondem um questionário sobre a excelência em pesquisa e ensino em suas disciplinas de atuação. A pesquisa é distribuída de maneira uniforme entre as disciplinas acadêmicas e a edição de 2022 foi baseada em quase trinta mil respostas de 159 países. A metodologia utilizada não é, por certo, imune a críticas, mas esse levantamento é o mais tradicional e utilizado quando se trata de reputação internacional das instituições.
Ainda mais ilustrativo que os resultados de uma dada edição é a tendência observada ao longo dos anos quando se observa o desempenho da USP no Times Higher Education World Reputation Rankings em todas as edições disponíveis. Um gráfico com esses dados pode ser visto aqui. Mesmo expurgando os resultados extremos como a inclusão no grupo 51-60 na edição de 2015 e a ausência na de 2018, há uma tendência de queda ao longo desses 11 anos. Além da aparente diminuição na percepção do prestígio internacional da USP, fatores como o rápido e consistente crescimento das universidades chinesas devem ser considerados e uma análise mais profunda se faz necessária.
A modesta melhora de desempenho entre 2020 e 2021 foi celebrada pelo jornal O Estado de São Paulo. Sob o título A USP faz sua lição de casa, o Estadão noticiou no dia 8 de novembro de 2021 o desempenho da USP no THE World Reputation Rankings 2021 e no Best Global Universities 2022, um ranking com foco específico em pesquisa e baseado em dados objetivos, como já expliquei. Para o Estadão “Por ter investido em inovação, internacionalização, ambiente de ensino e pesquisa, a USP subiu nos rankings comparativos internacionais”.
Por outro lado, a queda acentuada entre 2015 e 2016 foi noticiada pela revista Veja na matéria USP despenca em ranking internacional de reputação acadêmica publicada em 5 de maio de 2016: “A Universidade é a única da América Latina no top 100 da lista elaborada pela revista britânica Times HigherEducation (THE) e caiu ao menos 40 posições em relação a 2015.” Frente à matéria da Veja, os elogios do Estadão, com base no mesmo ranking, não parecem grande coisa. Não encontrei matérias sobre a ausência da USP na edição de 2018 deste ranking.
Observações superficiais e, muitas vezes, apaixonadas e enviesadas, da imprensa não especializada são comuns e até compreensíveis. Mas a análise criteriosa do desempenho ao longo dos anos é essencial, principalmente quando se trata da medida da reputação, intrinsecamente carregada de subjetivismo. Afinal, a dimensão captada pelas impressões dos pares é indiscutivelmente importante, mas carece da objetividade de outros rankings.
Figurar entre as 100 universidades no mundo em um ranking que tem como objetivo medir a reputação internacional já é uma ótima notícia para a USP, única brasileira incluída nesta lista. A série histórica indica que a permanência entre as 100 melhores é consistente, mas as posições ocupadas entre 2012 e 2015 são consideravelmente melhores que as alcançadas a partir de 2016. As razões dessa queda devem ser discutidas com critério, principalmente em conexão com outros parâmetros e classificações disponíveis incluindo comparações entre instituições semelhantes. O acompanhamento contínuo do desempenho deve ser parte do dia a dia da gestão universitária, principalmente das financiadas com recursos públicos. Analisar criticamente os rankings universitários e utilizar os resultados para avaliar o presente e planejar o futuro é bom; celebrar os resultados pretensamente positivos e ignorar os negativos, não.
Hamilton Varela é professor titular do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo.
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