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O cumprimento da agenda de desenvol­­vi­­mento dos anos 1960 exigiu a instituição e aplicação de âncoras infra-estruturais e fi­­nanceiras, essenciais para a integração do Pa­­raná em seu interior e com o restante do Brasil e do mundo

Há pouco mais de uma década, por ocasião da colheita dos primeiros frutos da estabilização monetária trazida pelo Plano Real, o debate acerca das modificações estruturais delineadas pela economia do Paraná, particularmente no setor industrial, ensejou um diagnóstico preliminar. Ainda de maneira improvisada, o estado procurava resgatar o desejo de industrialização perdido no transcorrer das fases de instabilidade dos anos 1980 e dos primórdios dos 1990, conhecidos como a travessia para a globalização.

A tese da natureza circunstancial das empreitadas então realizadas poderia ser facilmente percebida pela expressão usada pelo governador Jaime Lerner, em fevereiro de 1996, quando do anúncio da instalação da fábrica de automóveis da Renault no Paraná, no município de São José dos Pinhais. O mandatário do Executivo estadual sentenciou que teria conquistado a montadora francesa buscando-a na bandeira de escanteio, dado que Rio Grande do Sul e Minas Gerais saíram na frente na identificação da intenção e nos acertos para a caça e o leilão do projeto da multinacional.

Antes do episódio Renault, maximizado posteriormente pela Volkswagen e Chrysler, prevalecia, nas hostes governamentais, a retórica do desenvolvimento industrial rotulada nos slogans "vestir os grãos" e "Paraná latino", utilizados na campanha para o governo do estado em 1994. Havia também algumas ações institucionais para a intermediação de interesses, voltada à viabilização de aporte de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a duplicação da capacidade produtiva de uma unidade papeleira na Região do Norte Pioneiro, que apresentava problemas técnicos e, por isso, operava abaixo do ponto de equilíbrio operacional e financeiro.

Em outros termos, permaneciam ausentes, do rol de preocupações e da cesta de subsídios às escolhas estratégicas oficiais, itens relativos à construção das bases de um projeto de desenvolvimento para o estado, nos moldes da atualização ou restauração contemporânea das propostas concebidas pelos técnicos da Comissão da Coordenação do Plano de Desenvolvimento Econômico do Paraná (Pladep), no final dos anos 1950, que foram implementadas nos governos Ney Braga e Paulo Pi­­mentel, na década de 1960.

O cumprimento da agenda de desenvolvimento dos anos 1960 exigiu a instituição e aplicação de âncoras infraestruturais e financeiras, essenciais para a integração do estado em seu interior e com o restante do Brasil e do mundo, o recebimento do choque de modernização dos complexos rurais entre 1968 e 1974, incluindo a mudança nas bases técnicas da agricultura e das relações de trabalho, com a elevação do desemprego no campo e a proliferação da categoria dos trabalhadores conhecidos como boias-frias, a concretização da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e a obtenção da refinaria de petróleo da Petrobrás, em Araucária.

Ainda assim, parecia razoável admitir que o aproveitamento, na segunda parte da década de 1990, de alguns fatores de mudanças e de oportunidades, centrados na expansão do complexo automotivo, na verticalização do agronegócio, liderada pelas cooperativas, na modernização dos parques madeireiro, papeleiro e moveleiro, na consolidação da integração comercial do Brasil com os países membros do Mercosul, e na otimização do tripé infraestrutural, formado por transportes, energia e telecomunicações, faria do estado a quarta indústria do país, em menos de um decênio, suplantando a do Rio Grande do Sul (RS).

Até porque, esse coquetel de pontos fortes teria sido precedido pelo acionamento de eixos de investimentos públicos e privados. A frente pública abarcou a reparação e a conservação de rodovias estaduais, a conclusão das obras da Usina Hidre­létrica de Salto Segredo, a duplicação da BR-376 no trecho Curitiba-Garuva, a reativação da ponte sobre o Rio Paraná em Guaíra, o término da Ferroes­­te entre Cascavel e Guarapuava, e o início da construção da hidrelétrica de Salto Caxias, inaugurada em 1998. A vertente privada será descrita no artigo de 18 de janeiro de 2010.

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Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordenador do Curso de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário.

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