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O que se avalia é que, mesmo impedindo a falência de algumas instituições financeiras de porte, o Fed teria cometido um pecado mortal ao permitir a quebra do Lehman Brothers

Seguindo com a análise da safra de indicadores recessivos colhida em 2008, percebe-se que o Produto Interno Bruto (PIB) da Eurozona diminuiu 0,2% no segundo e no terceiro trimestres. O da União Europeia decresceu 0,2% no terceiro trimestre, depois de ter permanecido estagnado no segundo. A economia italiana, mais especificamente, encolheu 0,2% e 0,9%, respectivamente, nesses trimestres de 2008.

As atividades de serviços da Zona do Euro experimentaram pronunciada queda no mês de novembro de 2008, evidenciada pelo Purchasing Managers Index, calculado pelo Instituto Markit, que desceu para 42,5 pontos, depois de atingir 45,8 pontos em outubro. Conforme a metodologia da pesquisa, a apuração de indicador inferior a 50 pontos é característica de desaceleração.

Em idêntico embalo, o PIB japonês encolheu 0,9% e 0,5%, no segundo e terceiro trimestres, respectivamente, e as exportações chinesas diminuíram 2,2% em novembro de 2008 frente ao mesmo mês de 2007 – o primeiro resultado negativo desde 2001. A produção industrial da China exibiu, em novembro de 2008, o menor ritmo de expansão em quase uma década: 5,4%.

Nesse contexto, é preciso lembrar que a abrangente articulação mundial, envolvendo intervenções públicas de aporte de recursos a setores afetados e/ou com maior poder de pressão, materializadas em operações de socorro financeiro e de absorção de bancos, atenderia apenas ao propósito de neutralização da derrocada de confiança ou de devolução da solvência, por meio de recapitalização, compra de papéis podres ou estatização, de forma a amainar os eixos destrutivos da crise, estancar o processo de quebradeira de instituições financeiras e evitar a deflagração de uma depressão.

Até o começo de janeiro de 2009, nenhuma das atitudes pró-ativas teve o poder de restauração da confiança dos atores econômicos a ponto de esboçar o delineamento de um cenário de recuperação do sistema de empréstimos e dos mecanismos de crédito para consumo e investimento. O que se avalia é que, mesmo impedindo a falência de algumas instituições financeiras de porte, o Fed teria cometido um pecado mortal ao permitir a quebra do Lehman Brothers.

Por isso, o abrandamento do curso recessivo requer o emprego de expedientes conjunturais e estruturais. Por um prisma de curto prazo, foi deflagrada nova rodada de redução dos juros, principalmente por parte dos bancos centrais europeus, que ainda praticam taxas consideradas altas quanto cotejadas com a Prime Rate, taxa básica de juros dos EUA, que situa-se em 1,0% a.a. Nessa perspectiva, no começo de dezembro, o Banco Central Europeu (BCE) diminuiu a taxa básica de juros de 3,25% a.a. para 2,5% a.a. Em direção análoga, o Banco da Inglaterra reduziu os juros de 3% a.a. para 2% a.a., o menor nível desde 1951.

O Reino Unido também lançou, no fim de novembro de 2008, um plano de redução dos impostos incidentes sobre a classe média e de acréscimo para as categorias mais elevadas na absorção da renda. A Comissão Europeia sugeriu que os 27 países do bloco aprovassem, ainda em 2008, estímulos fiscais, creditícios e sociais de cerca de 1,5% do PIB, constante de um pacote de US$ 259 bilhões.

Os EUA anunciaram, por intermédio do Fed, novo socorro de US$ 800 bilhões, sendo US$ 200 bilhões para bancos, US$ 500 bilhões para a compra de papéis hipotecários e US$ 100 bilhões para a aquisição de bônus das empresas. Sintomaticamente, pesquisa da Mortgage Bankers Association (MBA) mostra que o volume de pedidos de financiamentos imobiliários nos EUA aumentou 112,1% na semana encerrada em 28 de novembro frente à semana anterior, fato confirmado pelo salto no indicador de solicitações de 404,4 para 857,7. Os requerimentos de hipotecas para refinanciamentos imobiliários já existentes subiram 203,3%, correspondendo a 69,1% do total.

Em direção análoga, a China divulgou um plano de US$ 586 bilhões para o financiamento de empreendimentos infra estruturais em dois anos, equivalendo a 14% do PIB, e diminuiu as taxas de juros para empréstimos de 6,66% a.a. para 5,58% a.a., e as taxas de referência para depósitos de 3,6% a.a. para 2,52% a.a., o que equivale ao maior corte promovido desde outubro de 1997.

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