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Em pesquisa promovida pela Folha de S. Paulo no dia 3 de junho, Charles Spencer Chaplin, o Carlitos, foi considerado o maior comediante do cinema de todos os tempos. Mas ele não foi apenas o melhor comediante entre os artistas de cinema. Com ironia, Carlitos ensinava política e denunciava os perseguidores e autoritários de toda ordem.

Em muitos de seus filmes, Carlitos aparece de olhos arregalados, como que demonstrando um profundo espanto diante das perversidades que os homens conseguem construir. Três décadas depois de sua morte, seus filmes continuam mantendo uma atualidade surpreendente e são utilizados neste início de século para fazer rir e pensar. Os críticos consideram um desafio falar sobre Chaplin que costumava se auto-intitular "palhaço". Mais do que exaltar as qualidades de Carlitos, é preciso reforçar a importância do valor simbólico de seu humor para uma sociedade cada vez mais consumista, excludente e auto-destruidora.

A exclusão é uma palavra-chave muito forte na obra de Chaplin. No tempo presente, ela se processa de muitas formas. A mais visível se dá pela via da economia. Mas as pessoas também são excluídas ou "mortas" por não se submeterem a formas de conhecimento consideradas por grupos detentores de poder, como mais importantes. O projeto genoma e os planos de saúde propõem uma forma sutil de exclusão à medida que sinalizam com uma vida longa e sem males para quem puder pagar. Uma ilusão que serve para determinados grupos ganharem muito dinheiro.

O estudo da obra de Chaplin permite muitas (re)leituras. Sua grande percepção foi a de sintetizar nossa incapacidade de compreender quanto a sociedade urbana e industrial é excludente. O vagabundo, por instinto de sobrevivência, nos revela que a idéia de civilização é incompleta, pois alguns seres humanos ainda vivem pior que animais.

Nas palavras de Hugo Possolo, palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlatões e do Circo Roda Brasil, Carlitos não é apenas o pobre esperto que supera as autoridades, homens ricos e policiais com suas artimanhas. O vagabundo sabia para quem trabalhava. Agradava o público, mas não se submetia ao gosto médio, ao medíocre como fazem a maioria dos comediantes do tempo presente. Ao contrário, mantinha suas convicções e sempre deixava uma ponta de esperança. Caminhava por uma estrada, saltitando, mostrando que ainda existem outros caminhos, apesar de tudo.

Neste caso não foi sem propósito, mesmo sendo um grande empreendedor num país cuja cultura é empreendedora (EUA), sem estar ligado a nenhum partido, foi banido do país por motivos políticos. E com a ironia fina que tão bem sabia construir, foi o comediante que melhor zombou do ridículo da tirania de Hitler.

O filme em que aparece um Carlitos que se confunde com a figura de Hitler é "O Grande Ditador". Nele, Carlitos profere o "Último Discurso", obra prima do discurso contemporâneo. Feito durante a ascensão do nazismo e período da 2.ª Guerra Mundial, o filme foi obviamente proibido na Alemanha e também no Brasil sob a ditadura populista de Getúlio Vargas.

Os mais críticos poderiam dizer que Carlitos, depois da Coca-cola, foi o produto mais mercantilizado, transformado em milhões de itens – bonés, camisetas, pôsteres, bonequinhos. Mas seu criador não se vendeu. A essência de seu humor não temia o risco dos assuntos mais ousados. Alguns analistas consideram Chaplin incomparável. Sua movimentação constitui um verdadeiro poema visual, que dispensa totalmente as palavras.

A propósito, este é um aspecto essencial de sua trajetória. Embora os adotasse mais tarde, Carlitos resistiu por muito tempo aos diálogos sonoros em seus filmes. Ele era da opinião de que o gesto era suficiente para entender a mensagem do protagonista. Carlitos faz falta!

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