• Carregando...
 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Estávamos acostumados a ver grandes transformações levarem décadas para se concretizarem. Hoje, com as disrupções tecnológicas, o processo foi acelerado e, em menos de dois anos, uma inovação pensada por uma startup é capaz de mudar completamente o mercado.

Temos atualmente a corrida das startups para atingir US$ 1 bilhão em valor de mercado, algo inimaginável antes da digitalização do mundo. Mesmo grandes ícones de consumo global, como a Nike, levaram 24 anos para atingir essa marca, contra pouco mais de um ano do YouTube. A Uber atingiu US$ 1 bilhão em valor de mercado com menos de dois anos. Ainda em 2015, valia US$ 68 bilhões, mais que GM, Ford e Honda juntas. As startups que atingem essa mítica marca de US$ 1 bilhão são chamadas de “unicórnios”. Hoje 185 empresas já romperam essa marca.

Para alcançarem esta velocidade de crescimento, essas empresas são, em grande parte, de base tecnológica. Em 2006, no topo da lista das empresas mais valiosas, havia apenas uma empresa de TI, a Microsoft. Em 2016, apenas uma empresa que não é de TI estava na lista, a ExxonMobil.

Aplicativos podem ser distribuídos e viralizar ao redor do mundo em horas

A tecnologia da informação distorce uma variável fundamental nos negócios: o tempo. Ao passo que uma indústria precisa de novas instalações caso tenha a demanda dobrada, um aplicativo publicado poderá ter o dobro de usuários em horas sem que nada tenha de ser alterado. Os canais de venda conseguem, em instantes, atingir bilhões de usuários simultaneamente. A tecnologia da informação é capaz de comprimir o tempo; esta é uma das razões pelas quais empresas de software, como o AirBnB, ao entrar em mercados lineares, como o de hotéis, causam abalos sísmicos tão violentos.

Vivemos também a era do custo marginal tendendo a zero, como que em uma versão extrema da redução dos custos produtivos de grande escala. Henry Ford foi capaz de reduzir o tempo de fabricação de um carro de 12 horas para 90 minutos. Esse fator pressionou os preços para baixo e democratizou o automóvel. No mundo do software, essa relação é ainda mais intensa.

Essas plataformas conseguem proliferar de forma tão viral por dois elementos: quantidade de pessoas conectadas e o quão acessíveis se tornaram as ferramentas de desenvolvimento. São 4 bilhões de pessoas na internet e este crescimento continua exponencial. Por isso, teremos ciclos de adoção cada vez mais curtos. Aplicativos podem ser distribuídos e viralizar ao redor do mundo em horas, atingindo mais de 50% da população mundial.

Além disso, nunca foi tão barato empreender. Décadas atrás, os impérios industriais tinham uma barreira natural de proteção de acesso ao mercado e necessidade intensiva de capital. Agora, as mesmas ferramentas de desenvolvimento que empresas como Google e Apple utilizam estão disponíveis. São pequenos grupos criando, de forma ágil, plataformas com escalabilidade global.

O impacto que apenas imperadores possuíam no passado passou a ser exercido por grandes organizações no século 20. Agora, são empreendedores como Elon Musk, da Tesla, que causam impactos globais.

O outro lado da moeda é o ritmo também exponencial de extinção de empresas. O tempo de permanência no grupo das 500 maiores empresas do mundo continua caindo. O desafio é manter-se relevante e adaptar-se.

O ritmo de transformações puxadas pelo avanço tecnológico fascina e assusta. Inovar deixa de ser um diferencial para ser questão central de sobrevivência. Como disse Mark Zuckerberg, “o maior risco é o de não arriscar. Em um mundo de transformações realmente velozes, a estratégia que certamente leva ao fracasso é a que evita riscos”.

Arthur Igreja é assessor econômico da Faciap, professor da FGV-RJ e palestrante.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]