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Em cerimônia realizada no último dia 8 de agosto, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná celebrou a posse de seu novo reitor, o professor Carlos Eduardo Cantarelli, eleito pela comunidade em eleições realizadas em 3 de abril. O processo de escolha, embora claro nos resultados oriundos das urnas, foi chamuscado pelo Conselho Universitário, por não referendar na lista tríplice, encaminhada ao ministro da Educação, todos os participantes do pleito direto, lançando assim uma sombra de dúvida sobre a natureza do verdadeiro processo democrático legitimado pela comunidade.

A escolha de um reitor é sempre um desafio, pois canaliza as vontades de sua comunidade e espelha, em seu resultado, a forma futura de atuação da instituição. Transformado em universidade em 2005, o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, conhecido ainda hoje como Cefet-PR, é uma instituição que passou por incrível transformação ao longo das últimas décadas. De uma escola de aprendizes artífices criada em 1909, a instituição evoluiu para um conceituado centro de educação tecnológica no final da década de 70, dedicando-se com competência ao ensino técnico no Paraná. Entretanto, a introdução de cursos superiores em seu leque de ofertas, somada à criação de cursos de pós-graduação stricto sensu, permitiu sua evolução e sua inclusão no rol das universidades públicas brasileiras. Ao mesmo tempo, de uma instituição com atuação centrada apenas na capital paranaense, viu sua infra-estrutura expandir velozmente, totalizando neste momento onze campi espalhados em todo o estado. Atualmente, a UTFPR possui aproximadamente 16 mil alunos matriculados, a grande maioria em seus cursos superiores de tecnologia, os quais possuem um bacharelado mais curto e um perfil profissionalizante. Este fato espelha sua trajetória de atuação e traduz sua vocação na área de ensino dito tecnológico.

Entretanto, a UTFPR encontra-se na iminência de sofrer uma transformação significativa em seu perfil. E esta mudança está sendo provocada por uma ambiciosa e bem-vinda iniciativa do governo Lula para promover a expansão de vagas no ensino superior das universidades federais. Além da ampliação de vagas no nível de graduação, esse programa, batizado de Reuni, tem por objetivo a melhoria da qualidade dos cursos, o melhor aproveitamento da infra-estrutura e dos recursos humanos disponíveis. O projeto aprovado em janeiro deste ano junto ao Ministério da Educação contempla a criação de aproximadamente 9 mil vagas em cursos novos e existentes, prioritariamente nas engenharias e cursos da área de ciências exatas e tecnológicas. Serão contratados até o ano de 2012 mais de 650 novos docentes e 200 técnicos-administrativos, com investimentos de 91 milhões destinados à expansão física da infra-estrutura dos campi.

Esses números grandiosos geram, entretanto, certa preocupação. As universidades públicas brasileiras têm pautado suas atividades nos eixos de ensino, pesquisa e extensão. É justamente sua atuação na área de pesquisa que as diferencia da concorrência privada. Diz-se que a maior parte das universidades privadas brasileiras não tem bom ensino, porque não tem pesquisa. A pesquisa gera novos conhecimentos que são transferidos aos alunos em sala de aula. Contudo, é bem sabido que as atividades de pesquisa da UTFPR são ainda incipientes. Isto é devido ao seu histórico e a qualificação de seu corpo docente, cujo número de doutores está abaixo de 25%, quando suas congêneres a nível nacional apresentam um indicador acima de 70%. Assim, a expansão prevista para a UTFPR deve, além das metas já estabelecidas pelo programa Reuni, aprovado pelo ministério, promover um denodado esforço na qualificação de seu corpo docente e incutir em seus futuros doutores a dedicação à pesquisa, à busca da excelência e à criação de novos programas de pós-graduação. Não é uma tarefa fácil e o novo reitor deve ter sensibilidade para perceber essa necessidade e promover esse novo espírito na universidade que passa agora a dirigir. Faço votos para que ele possa seguir esse novo rumo com dedicação e comprometimento!

Alexandre de Almeida Prado Pohl, doutor em engenharia elétrica pela Universidade Técnica de Braunschweig (Alemanha), é professor do Departamento de Eletrônica, do programa de pós-graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial da UTFPR e pesquisador do CNPq.

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