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A linguagem conceptual é indispensável para os domínios da ciência, das instituições, das leis. Se por um lado é abstrata, e este é o seu limite, por outro promove em boa parte a objetividade do que se pretende dizer. Todavia, quando se quer falar das relações entre pessoas e/ou comunidades, o linguajar dos símbolos tem maior reserva de sentido. Daí que a linguagem das parábolas, amplamente usada nos Evangelhos, tem grande força evocativa.

E nas celebrações deste domingo a parábola é aquela da videira e dos ramos (Jo 15, 1-8). Antes de falar dela, vale lembrar, sempre recordando o jogo de símbolos, que no Antigo Testamento havia três árvores que eram apresentadas como imagem do povo de Israel, o povo de Deus: a figueira, a oliveira e a videira. A videira produz uvas. Das uvas se faz o vinho. E naquele tempo o vinho era símbolo do amor. As uvas não eram apenas frutos da videira. E o vinho não era apenas bebida. Boas uvas e bons vinhos, quando oferecidos, equivaliam a boas disposições, a querer bem, a amar, a ser bom.

Agora podemos falar da videira e dos ramos, a parábola deste nosso domingo. “Eu sou a videira... meu Pai é o agricultor”. Como a mesma sugere, a pessoa de Jesus, suas palavras e escolhas, tudo isso é escolha do Pai. Foi Ele quem plantou. Dizendo diversamente, quem adere a Jesus, quem se deixa inspirar por ele, leva em si mesmo as opções e os cuidados de Deus. O agricultor cuida da sua planta. Deus cuida do discípulo do Senhor.

Liberdade e gratuidade integram-se. Quanto mais livres, tanto mais sãos os frutos de bondade

Ainda deixando-nos mover pela parábola, o passo seguinte refere que o bom ramo, aquele que produz frutos, é podado para que frutifique ainda mais. Ora, o ramo não existe para o seu próprio benefício. Ele recebe da planta a seiva para que a mesma ofereça sua vitalidade ao fruto. A poda está positivamente orientada. É para produzir mais frutos ainda. Voltemos ao fruto, à uva: é símbolo do amor. Quem se dispõe ao amor, à justiça, à paz, ao modo como fazia Jesus, nestes o “agricultor” retira o que os impede de ser ainda mais livres e mais efetivos. Parece que o evangelista está intencionado a lembrar que liberdade e gratuidade integram-se. Quanto mais livres, tanto mais sãos os frutos de bondade.

O ramo que não permanece na videira não produz fruto algum. Seca. Não tem gratuidade. Ou, então, não ama. Poderíamos aqui lembrar da falta de resposta às chances de ser bons. Quem não se dedica a amar com gratuidade se parece com ramos “carentes de vida”. Mais ainda, o ramo não é único. Junto com outros, está ligado ao mesmo tronco. O individualismo faz um mal imenso ao coração humano. Empobrece-o como um ramo cortado do tronco. O tronco seca; o individualista esvazia-se. Ou, se produzir frutos, serão frutos azedos.

Com frequência vemos, ouvimos e lemos fatos e acontecimentos que apontam para muitas e graves situações de falta de fraternidade. Seriam muitos ramos secos. E é mesmo verdade que existem. Mas, assim como a parábola fala bem mais dos ramos que produzem frutos, parece-me que cada cristão pode se deixar inspirar pela parábola para contemplar também os bons frutos que se deixam ver, até mesmo naquelas realidades muito comentadas face a muitos e reais “azedumes”. Quem se maravilha com o bem que encontra também será capaz de multiplicá-lo.

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