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Destruíram os grandes hospitais. Diminuíram drasticamente o número de leitos psiquiátricos e, ao que me consta, não se criaram os tais vagas em hospitais gerais no Brasil

Na tentativa de desinstitucionalizar os doentes mentais, o Brasil foi mais uma das vítimas de um experimento social malsucedido do século 20. Para fazer isso, os responsáveis pelas políticas públicas de saúde mental do país nos últimos 25 anos fecharam mais de 80% dos leitos psiquiátricos tradicionais e nada, ou quase nada, fizeram para substituí-los por unidades psiquiátricas em hospitais gerais – o que poderia ser a grande saída para resgatar a população com doenças mentais, como os transtornos de humor do tipo da depressão.

Algum espanto? Sim, a depressão é uma patologia psiquiátrica que faz parte da classificação internacional das doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) e preocupa a OMS, já que está em constante ascensão e deve assumir o segundo lugar de incidência entre todas as doenças que acometem o ser humano.

As entidades se comprometeram em "desospitalizar", substituindo o leito psiquiátrico por outras modalidades de atendimento e, nos casos realmente necessários, retirar os leitos dos grandes hospitais, colocando leitos em hospital geral e em pequenos hospitais psiquiátricos. Era a autodenominada Reforma Psiquiátrica. O resultado foi lastimável.

Destruíram os grandes hospitais. Diminuíram drasticamente o número de leitos psiquiátricos e, ao que me consta, não se criaram os tais vagas em hospitais gerais no Brasil. Enquanto isso, a população em geral cresceu, assim como aumentou o número de pacientes necessitados de atendimento, inclusive hospitalar. É claro: só não cresceu a oferta de tratamento. Como costuma acontecer, uma revolução a custo zero.

Também nada foi decidido sobre outros equipamentos que pudessem dar conta da demanda por atendimento dos pacientes com várias modalidades de distúrbios mentais, como por exemplo, esquizofrenia; alcoolismo; dependências químicas (crack e outras drogas), ou transtornos do comportamento alimentar, entre outros, que também poderiam ser atendidos nessas unidades de internação, em ambulatórios, pronto-socorros, ou centros de reabilitação de hospitais gerais. Ouvimos que uma primeira unidade está em fase de criação na capital paranaense. Esperemos que em boa hora se materialize.

Quem salva os nossos pacientes? Pode até não parecer, mas eles, mesmos doentes, não estão interessados em serem salvos. Esperam apenas que os tratem, lhes devolvam uma situação mais próxima da anterior, para que possam decidir o que querem e o que precisam, ou o que não querem e o que não precisam.

A demanda é enorme e a desassistência é flagrante. Por isso, a criação de serviços especializados de cuidados intensivos como as unidades em Hospital Geral, sejam estatais ou privados, e de pequenas clínicas podem ajudar a minorar esses problemas.

As pequenas clínicas são unidades de cuidados intensivos para pacientes com transtornos mentais agudos. Diferem dos simples leitos dedicados (mas sem estrutura de unidade psiquiátrica) em hospitais gerais e nos hospitais psiquiátricos tradicionais, pois podem ter ambientes e recursos humanos e técnicos especialmente dedicados ao manejo desses estados agudos. Atendem pacientes particulares, como se encontra em países desenvolvidos, para estadas de curta duração, não se confundindo com serviços dedicados a pacientes com necessidades de internação de longa duração. É, entendemos, um serviço especialmente útil para o manejo de crises e ajustes terapêuticos que não possam ser realizados em ambulatório/consultório.

Elio Luiz Mauer é médico psiquiatra.

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